Em 2014 fiz uma carta aberta para o governo brasileiro, criticando o Itamaraty e dizendo “não em meu nome”. Na ocasião, após fundamentar minha posição como decorrente da nossa Constituição Federal, eu disse:
“A alegada ‘desproporcionalidade’ só demonstra falta de conhecimento histórico, militar e da própria situação em tela. Como disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Israel, Yigal Palmor, ‘não é assim na vida real’ e ‘a única razão para não termos centenas de mortos nas ruas de Israel é termos desenvolvido um sistema antimíssil. E não vamos nos desculpar por isso. Se não tivéssemos esse sistema haveria centenas de pessoas mortas nas ruas de Israel. Isso seria considerado proporcional?”. (…)
Ao apoiar incondicionalmente o Hamas, o Itamaraty tem responsabilidade sobre a morte de cada civil, cada ferido, cada criança e cada mulher usados como escudos humanos. Ir contra isso protegeria estes palestinos. Algum governante de Gaza, onde há muito não se realizam eleições, pode simplesmente pensar: “Para que parar de usar essa estratégia se o Brasil, nosso aliado, não a critica?” (…)
Usar palestinos como escudo humano pode; usar hospitais e mesquitas como depósito de armas pode. Porém, Israel se defender, não pode. Definitivamente, a postura do Itamaraty está indo contra o que determina nossa Constituição. O Itamaraty não pode apoiar terroristas. Simples assim. Se alguém quer fazer isso, não pode fazê-lo em nome do país. Fale como pessoa física, nunca em meu nome. Não em meu nome.”
Esta carta é assinada por alguém que ama Israel e ama a Paz.
Particularmente, concordo com todas as críticas que Israel faz à parcialidade da ONU e à sua omissão sobre o que o Hamas faz. Entendo todo o repúdio e asco por tudo que o Hamas acabou de fazer . Entendo o nojo que ocorre quando querem comparar o comportamento de Hamas e de Israel, e não verem a diferença entre como cada qual trata os civis, mulheres, crianças e idosos. Entendo o absurdo que é relativizarem o que o Hamas fez e não chamarem atos de terrorismo e barbárie pelo seu nome .
Sei quantas vezes Israel aceitou a solução de dois Estados e acho um absurdo muitos ignorarem que o Hamas sempre usou as doações humanitárias para construir túneis e armas em lugar de usinas de energia e de soluções hídricas.
Entendo que nenhum país em guerra fornecerá água e energia elétrica para o inimigo . Um inimigo que para as propostas de paz responde os três “Não”. Em suma, sou e sempre serei amigo de Israel. Todavia, assim como Israel quer a paz, eu e os brasileiros também a queremos.
A verdade é que Israel acabou de celebrar acordos de paz com alguns países e estava às portas de celebrar a paz com a Arábia Saudita. A tão desejada paz e, finalmente, os “Sim” que todos queremos. É isso que o Hamas mais quer destruir, pois sabe o efeito que esses acordos terão.
O que o Hamas acabou de fazer foi comemorado como vitória por atrapalhar a paz, mas é uma derrota moral e que revela o nível de barbárie desse grupo. Todavia, o grande objetivo do Hamas é promover o ódio contra Israel e usa civis israelenses e civis palestinos para retroalimentar a cadeia do terrorismo. O acordo de paz com a Arábia Saudita abalará fortemente o terrorismo.
Qualquer ódio e qualquer desejo de vingança de Israel contra o Hamas são plenamente justificáveis, o desejo (e o dever) de aniquilar esses terroristas é justificável, exercer a legítima defesa é justificável. Deixar Gaza com autogoverno resultou em seu uso como base inimiga e isso precisa acabar. Só que precisa acabar sem vocês perderem a autoridade moral que, no momento, possuem. Da mesma forma, sem perder o apoio internacional que, no momento, possuem.
Perdoem a citação, mas a literatura traz uma lição: “Nunca odeie seu inimigo, isso atrapalha seu raciocínio”. Eu, como amigo de Israel, preciso dizer que o tratamento que Israel recebe é injusto, sim, mas para ganhar essa guerra é preciso não deixar o (justificado) ódio atrapalhar o raciocínio.
Vocês estão seguindo a cartilha que o Hamas conhece e estão deixando o Hamas conduzir a estratégia de resposta. Se eles trouxeram algo nunca visto antes, e se já sabiam o que Israel faria, se vocês querem vencer precisam fazer algo diferente também.
Vocês entendem de guerras mais do que ninguém, mas há pontos nos quais o (justificado) ódio não está deixando vocês verem algumas coisas. Daí, a ousadia da presente carta.
Vocês nunca tiveram tanta exposição de quem é o Hamas e do que esse grupo realmente quer. Desde 1948, vocês nunca tiveram tanto apoio dos governos mundiais.
Essa vantagem estratégica não pode ser desperdiçada. Então, um amigo de Israel humildemente pede para vocês atentem para aquilo que a justa ira de vocês está impedindo a visão.
Eis a sugestão de um amigo de Israel:
1. Concordo que vocês precisam fazer tudo que for necessário para aniquilar o Hamas.
2. Vocês sabem que o Hamas não quer perder os escudos humanos palestinos e quer tentar provar que os judeus são tão cruéis quanto eles.
3. Vocês também precisam inovar, fazer algo nunca feito. Para isso, não podem seguir integralmente a cartilha que o Hamas sabe que vocês seguiriam. Vocês precisam ser mais inteligentes que eles.
4. Ajudem os civis a saírem. Façam os civis palestinos verem que vocês são melhores que o Hamas (ou, pelo menos, façam os civis palestinos não obedecerem mais ao Hamas).
5. Bombardear a cidade de Gaza é uma decisão de guerra, mas, antes, despejem no Sul de Gaza comida, águia, barracas de campanha, medicamentos e tudo o mais que os civis precisarão. Surpreendam o inimigo, tire os escudos deles. Tornem a saída dos civis da cidade de Gaza algo impossível de o Hamas impedir. Providenciem vocês mesmo o novo espaço humanitário.
6. Não adianta apenas cortar a energia e água da cidade de Gaza. É preciso que haja água e comida em algum lugar. Avisem os civis onde podem encontrar abrigo e água. Virem esse jogo: tratem os civis palestinos como vocês gostariam que qualquer um tratasse os civis israelenses. Mostrem, mais uma vez, a diferença entre Israel e Hamas.
7. O Hamas está esperando vocês nos túneis e armadilhas que estão sendo preparados há tanto tempo quanto a invasão que fizeram. Eles sabiam exatamente o que vocês fariam após tamanha barbárie. Parem de deixar os terroristas escreverem o script. Assim como na guerra dos seis dias, está na hora de surpreender o inimigo. Mostrem a diferença que possuem, aumentem o prazo de saída, entreguem comida e água no lugar certo, salvem os civis alheios e, assim, mais uma vez, vençam.
Que D’us guarde seu povo, que D’us proteja Israel. Shalom!
William Douglas
William Douglas é Desembargador federal e integrante da Turma de Direito Tributário do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF2). É professor, escritor, Mestre em Estado e Cidadania e pós-graduado em Políticas Públicas e Governo.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, confirmou nesta quinta-feira (12) que receberá seu homólogo chinês, Xi Jinping, em Kazan, no próximo mês de outubro, por ocasião da cúpula dos Brics.
O anúncio foi feito pelo mandatário russo durante encontro com o ministro das Relações Exteriores de Pequin, Wang Yi, em São Petersburgo, segundo a agência Interfax.
De acordo com Putin, as relações entre a China e a Rússia continuam a desenvolver-se “com muito sucesso em todas as direções”, incluindo a “coordenação no cenário internacional”.
Em imagens divulgadas pela mídia russa, Wang destacou que “o presidente Xi está muito feliz em aceitar o convite”.
“Nessa ocasião os dois chefes de Estado terão novas discussões estratégicas”, acrescentou o chanceler, destacando que ambos os líderes “estabeleceram uma confiança mútua sólida e uma amizade profunda”.
O ministro chinês chegou a São Petersburgo para participar da cúpula de altos funcionários e conselheiros de segurança nacional do bloco Brics. Sua visita também foi vista como uma oportunidade para lançar as bases do encontro presencial entre os líderes dos dois países.
A reunião dos Brics está marcada para acontecer entre 22 e 24 de outubro, na cidade russa de Kazan, e será o terceiro encontro presencial de 2024 entre Xi e Putin, poucas semanas antes das eleições presidenciais dos Estados Unidos, em novembro.
Formado inicialmente por Brasil, China, Índia e Rússia em 2009, o bloco foi ampliado com a adesão da África do Sul em 2010 e este ano incluiu vários outros países emergentes, como Egito e Irã. No início de setembro, a Turquia também apresentou um pedido de adesão ao bloco.