Um drone com sensor remoto Lidar (do inglês Light Detection and Ranging), que usa tecnologia óptica de detecção remota, para o mapeamento tridimensional das florestas começou a operar no Projeto Cauaxi de conservação, na Amazônia. O Cauaxi está sendo desenvolvido na macrorregião de Paragominas, interior do Pará.
Trata-se de um tipo de projeto que envolve emissão de gás carbônico (CO²) evitada e é aplicado pela climate tech beCarbon. Esta é uma startup (empresa nascente) que promove soluções climáticas naturais com recursos financeiros do mercado de carbono para mitigar os efeitos das mudanças climáticas globais. A brCarbon já usava o equipamento em uma etapa de testes e agora incorporou a tecnologia aos trabalhos de rotina.
“É uma floresta que, potencialmente, seria desmatada e, aí, vem o projeto de carbono para evitar que seja desmatada. O projeto dá recursos para o fazendeiro deixar a floresta em pé, em vez de desmatar”, disse à Agência Brasil o diretor Redd+ (reduções de emissões de gases de efeito estufa e aumento de estoques de carbono florestal) da brCarbon, Danilo Almeida.
Uma das frentes de trabalho da startup nacional é a geração de créditos de carbono para produtores rurais por meio da conservação de áreas florestais dentro de suas propriedades. Além do ganho ambiental e de benefícios climáticos, a manutenção da floresta em pé do excedente da reserva obrigatória por lei é transformada em resultado financeiro para os proprietários.
As áreas em Paragominas totalizam 57 mil hectares, ou o equivalente a 57 mil campos de futebol, e fazem parte de um projeto de carbono do tipo AUD (avoiding unplanned deforestation), cujo objetivo é evitar a emissão de carbono que ocorre com o desmatamento não planejado, ou o desmatamento ilegal, que pode ocorrer devido à pressão no entorno de uma área. Os dirigentes da brCarbon acreditam que este será, provavelmente, o primeiro trabalho com uso dessa tecnologia em projetos de conservação na Amazônia brasileira certificado pela Verra, principal plataforma global de registro de crédito de carbono.
Características
Uma das características principais dos projetos de carbono da brCarbon é mensurar o estoque de carbono existente na floresta, a biodiversidade e o aspecto social, com cientistas que vão às comunidades situadas no entorno. “Nessa parte de mensuração do carbono, é feito um inventário em campo. Vão pessoas para a região, mensuram as árvores, seu diâmetro e altura e estimam o carbono. Depois, utiliza-se o Lidar para conseguir construir um modelo estatístico e extrapolar essa informação que se tem do campo, de mensuração da biomassa, e fazer um mapa de biomassa de toda a área que é sobrevoada por drone”, explicou Almeida.
Com isso, os pontos amostrais de pequenas área feitos em campo por pessoas conseguem ser multiplicados em milhares de hectares. “E conseguimos ter um mapa de biomassa com alta acurácia dessas estimativas”, disse Almeida.
Segundo Almeida, todo o mérito do trabalho cabe ao sensor Lidar, e não ao drone, “que só carrega o sensor. Só voa. O que realmente mensura as árvores, faz o escaneamento da floresta, é o sensor. Ele consegue capturar a altura da vegetação, consegue capturar o solo que está abaixo da floresta, o sub-bosque da vegetação. E, com esse modelo tridimensional da vegetação, conseguimos estimar, com alta acurácia, a biomassa ou os estoques de carbono que estão na floresta.”
Em outras palavras, o sistema drone/Lidar faz o georreferenciamento, a medição de altura das árvores, as estimativas de carbono acima do solo e a identificação e a quantificação de clareiras.
Danilo Almeida informou que este equipamento será aplicado em todos os projetos da startup no Brasil. “Não só dentro dos projetos de Redd, de emissão de carbono evitada, mas também nos projetos de restauração, que fazem o sequestro do carbono da atmosfera, por meio do reflorestamento de florestas nativas”. Estão nesse campo projetos no Cerrado e na Mata Atlântica. A ideia é também levar o sensor Lidar para outros projetos envolvendo restauração, localizados nos estados do Acre, Amazonas e Mato Grosso, “porque aumenta muito a acurácia e reduz também o esforço de campo”.
Vantagem
Com um modelo estatístico que relaciona as imagens do sensor Lidar com a biomassa, dali para a frente, não é preciso ir mais para campo com muitas pessoas, disse o diretor da brCarbon. “Normalmente, trabalhamos com equipes de duas pessoas que vão para campo fazer voar o drone”. O drone faz voos de 20 minutos e, em cada sobrevoo, coleta de 50 hectares a 60 hectares. A brCarbon consegue fazer até oito voos diários com o drone, o que significa coletar 400 hectares por dia. Em um inventário convencional, de pessoas indo para campo, consegue-se cobrir um hectare por dia. A tecnologia aplicada pela brCarbon será levada para outros estados ainda neste ano.
Danilo Almeida informou que o Lidar aerotransportado já é amplamente usado na Europa, nos Estados Unidos e em algumas iniciativas no Brasil para diversas aplicações florestais, como mapeamento de clareiras, quantificação de danos causados por incêndios florestais, estudos e pesquisas ecológicas. Agora, o mapeamento com o sistema drone-sensor remoto também está inovando o trabalho de conservação das florestas brasileiras. As imagens de altíssima resolução obtidas com drone permitem identificar algumas espécies da Amazônia brasileira, como castanheiras e palmeiras, além de possibilitar o mapeamento e localização de espécies para as etapas que antecedem o manejo florestal sustentável.
A brCarbon dispõe de um banco de dados com castanheiras e copaíbas, duas espécies importantes na relação de produtos florestais não madeireiros que constituem fonte de renda alternativa para as comunidades que diretamente se beneficiam dos projetos. O analista em mensuração florestal da brCarbon Silvio Gomes informou à Agência Brasil que a empresa reúne um extenso e robusto volume de informações em seu banco de dados, relativo aos mapeamentos efetuados. Ao longo dos próximos anos, a meta é validar a tecnologia e implementar nos projetos da startup frente à plataforma internacional Verra.
Parcerias
Almeida acrescentou que o banco de dados que vem sendo formado tem parcerias com instituições de pesquisa como o Laboratório de Silvicultura Tropical da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), unidade da Universidade de São Paulo (USP), que também usa o sistema drone/Lidar para mapeamento de florestas na Mata Atlântica e no Cerrado. “A ideia das parcerias é unir o banco de dados que temos dentro da brCarbon com banco de dados de outros pesquisadores e, aí, fazer publicações científicas para o desenvolvimento de modelos e o aperfeiçoamento dessas estimativas de carbono para o público em geral e a comunidade científica como um todo”, concluiu Almeida.
Matéria atualizada às 15h11 para acréscimo de informações
Edição: Nádia Franco