O governo da Venezuela deve divulgar nesta segunda-feira (4) o resultado do referendo sobre a a nexação de Essequibo, rica região da vizinha Guiana. A campanha é parte do projeto de reeleição de Nicolás Maduro, que vê o país afundado em uma profunda crise.
O referendo não tem resultado prático e também não significa que haverá invasão militar na Guiana, no entanto, serve como ferramenta do Venezuela para pressionar o país vizinho.
A votação ocorreu no domingo às 6h (7h no horário de Brasília) e terminou às 20h local após uma prorrogação de duas horas, com os resultados esperados nas primeiras horas da manhã desta segunda-feira.
Segundo a agência AFP, houve baixo comparecimento na capital Caracas, San Cristóbal (estado de Táchira, no oeste) e Ciudad Guayana (estado de Bolívar, sudeste, perto da zona reivindicada pela Venezuela).
A agência Associated Press destacou que o processo de votação foi diferente de outros já vistos no país, já que não teve aglomeração de populares nas portas das zonas de votação.
Segundo a EFE, três horas antes da previsão de fechamento das urnas, menos de 12% dos eleitores haviam votado em três centros localizados em zonas diferentes de Caracas, de acordo com os coordenadores dessas seções. Dos 30 milhões de venezuelanos, 20,7 milhões foram convocados a votar.
O presidente guianês, Irfaan Ali, disse que não há “nada a temer” e que seu governo trabalha para manter as fronteiras intactas.
“Quero garantir aos guianenses que não há nada a temer nas próximas horas, dias, meses”, disse Ali em um discurso transmitido pelo Facebook. “Estaremos vigilantes, mas trabalhamos incansavelmente para garantir que nossas fronteiras permaneçam intactas, e que nossa população e país continuem seguros.”
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, neste domingo (3), esperar bom senso em relação à tensão que envolve a Venezuela e a Guiana.
“O que a América do Sul não está precisando é de confusão. Não se pode ficar pensando em briga. Espero que o bom senso prevaleça, do lado da Venezuela e do lada Guiana”, disse o mandatário brasileiro no último dia de sua participação na COP28 em Dubai, nos Emirados Árabes.
“Se tem uma coisa que a América do Sul não precisa agora é de confusão”, disse Lula. “Se tem uma coisa que precisamos para crescer e melhorar a vida do povo é baixar o facho (…) e não ficar pensando em briga. Não ficar inventando história. Espero que o bom senso prevaleça do lado da Venezuela e da Guiana.”
Questionado pelo jornal Valor Econômico se tem medo de uma guerra entre os dois países, Lula não titubeou:
“Quem é que não tem medo de guerra, cara?”, indagou. “A Humanidade deveria ter medo de guerra, porque só faz quando falta bom senso. Quando o poder da palavra se exauriu (…) Vale mais a pena uma conversa do que uma guerra.”
O líder venezuelo, Nicolás Maduro, não poupou insultos contra Ali, que critica por uma “posição prepotente, arrogante e belicista”.
“Hoje votamos por uma única cor, um único sentimento. Nosso voto é para fazer respeitar a Venezuela”, disse Maduro ao votar pela manhã.
Disputa
Há décadas, a Venezuela tem reivindicado a posse do território do Essequibo, que abrange uma área de 160 mil km², representando mais de dois terços do território da Guiana, e possui uma população de 125 mil habitantes, equivalente a um quinto do total de mais de 800 mil habitantes.
Por um lado, a Guiana defende a validade do Laudo Arbitral de Paris, datado de 1899, que estabeleceu as fronteiras atuais. Por outro lado, a Venezuela baseia-se em sua interpretação do Acordo de Genebra, assinado em 1966 com o Reino Unido, antes da independência da Guiana. Neste acordo, Londres e Caracas concordaram em formar uma comissão mista “para buscar uma solução satisfatória”. O governo venezuelano considerou o laudo de 1899 como “nulo e sem efeito”.