MATO GROSSO
Projeto “Mulheres em Defesa” resgata autoestima de mulheres vítimas de violência doméstica
Publicado
1 semana atrásem
Por
oestenewsO projeto “Mulheres em Defesa” tem como propósito dar condições de defesa às mulheres que já foram vítimas da violência doméstica e estão sob a tutela protetiva da justiça. São seis dias de treinamento com uma hora de duração. O projeto é composto por um conteúdo multidisciplinar, em que são ensinadas técnicas de defesa pessoal do Krav Magá, conhecimentos de análise comportamental e de ambientes, além da assistência psicológica da equipe do Ceav.
O projeto é apresentado para as assistidas, que ao demonstrarem interesse em participar passam por uma triagem realizada pela equipe psicossocial do Ceav.
Com oito anos de atuação no combate à violência doméstica e familiar contra a mulher, a juíza titular da 1ª Vara Especializada de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher e coordenadora do Ceav Cuiabá, Ana Graziela Vaz de Campos Alves Corrêa, fala do impacto do projeto na vida das vítimas.
“Pude constar que a participação no curso de defesa pessoal trouxe às mulheres mecanismos de defesa de futuras situações de violência. Além disso, observamos melhora da autoestima, saúde mental e empoderamento. Elas passam a acreditar em suas capacidades e força, o que, por certo, é um fator decisivo para romper o ciclo da violência”.
“Pensamos na realidade da violência contra a mulher e como criar projetos de políticas públicas eficazes, queríamos um projeto que amparasse e desse assistência a essas mulheres, principalmente em relação ao enfrentamento à violência. Então, surgiu a ideia: por que não ensiná-las a se defender?”, lembra a psicóloga do Centro, Milena Mello.
Treinamento – Um dos resultados do projeto é o resgate da confiança e autoestima das participantes, que, segundo o instrutor do curso, Leonardo Bocchese, também são ferramentas de defesa.
“Quanto mais elas aprendem, mais transmitem confiança e consequentemente, menos terão que usar as técnicas. Parece um paradoxo, mas isso acontece porque, quando o agressor sabe que a mulher consegue se defender, ele hesita antes de agir, quebra-se o sentimento de ‘poder’ dele”.
Durante o treinamento prático e teórico, as participantes aprendem técnicas de defesa pessoal do Krav Magá, que foram adaptadas para a realidade de violência contra mulher. Tapas, empurrões, puxões de cabelo, socos, esganadura, agressões com objetos cortantes e perfurantes estão entre os métodos mais utilizados pelos agressores.
“Um homem, como agressor, é pelo menos em 60% mais forte que a mulher. Isso é um dado biológico, que dá mais condições de uma percepção motora mais apurada, e às vezes, portando uma arma contra ela. Nessa situação, dificilmente a vítima terá chances. Ela até tenta se defender de uma forma instintiva, mas sem o conhecimento técnico as chances são mínimas”, contextualiza Leonardo.
A arte de defesa pessoal usa o corpo como ferramenta contra a violência. Com alguns movimentos curtos e objetivos, é possível impedir agressões ou, em situações extremas, dar condições de fuga para as vítimas.
“Simulamos o momento em que a violência está posta ali, em que a mulher se vê sem alternativa, a não ser a defesa física, como a única forma de se proteger. No projeto, elas aprendem quais são os pontos sensíveis do corpo. Então, damos o caminho, a estrutura e a estratégia básica para que, quando não houver outro caminho, ela possa se esquivar daquela situação”.
A identificação de situações de riscos também é uma forma de autodefesa. Por isso, o projeto também ensina como fazer análise de ambientes e comportamentos. Para aperfeiçoar as habilidades, as participantes recebem materiais com o conteúdo do projeto em vídeo.
“Fui surpreendida positivamente com todas as instruções que recebi, com a didática do instrutor que nos ensinou técnicas extremamente úteis, não só para quem vive situação de violência doméstica, mas para qualquer mulher lidar com enfrentamento a violência que pode acontecer em qualquer lugar e momento”, avaliou uma das participantes da 2ª edição do projeto.
Resgate – O projeto Mulheres em Defesa ainda trabalha com a perspectiva emocional das vítimas de violência doméstica. Para a psicóloga Luizângela Ramos do Ceav Cuiabá, os encontros puderam ressignificar memórias de algumas participantes, que passaram a ter consciência de suas forças.
“A nossa equipe está sempre presente para amparar as mulheres que sentissem algum desconforto, pois o treino simula situação de violência, e dependendo do tipo de movimento, podem vir recordações desconfortáveis. O interessante é que quando elas aprendem as técnicas, aquela situação ganha outro significado, o da confiança, o de saber que elas podem se defender. É como um curativo”, explica a psicóloga Luizângela Ramos.
Além da violência física, as mulheres também são vítimas de outras formas de violência doméstica. Conforme o Atlas da violência de 2024, o segundo tipo mais frequente é “violências múltiplas” (31,1%), quando há mais de uma forma de violência informada pela vítima. Em seguida, está a negligência (11,9%), violência psicológica (10,7%), violência sexual (8,9%) e outras formas de violência (0,7%).
Parceria – O encerramento da segunda edição do projeto “Mulheres em Defesa” contou com a parceria do programa Verde Novo do Poder Judiciário de Mato Grosso. Na ocasião, cada uma das participantes recebeu uma das 20 mudas de Ipês-brancos, cor símbolo da clareza, harmonia e paz.
#Paratodosverem – Esta matéria possui recursos de texto alternativo para promover a inclusão das pessoas com deficiência visual. Imagem 1 mostra o professor Leonardo ensinando uma técnica de defesa a uma participante. Imagem 2 é composta por 20 mudas de ipês-brancos, eles estão envoltos em sacolas de papel na cor marrom.
Priscilla Silva
Coordenadoria de Comunicação Social do TJMT
imprensa@tjmt.jus.br