O Poder Judiciário de Mato Grosso participou na manhã desta quarta-feira (25 de outubro), do ‘2º Encontro de Práticas Restaurativas: Mediadores e Facilitadores de Círculos na atuação para Pacificação Social das Escolas’, realizado pela Secretaria de Estado de Educação, com a meta de fazer reverberar as práticas restaurativas aplicadas para o combate à violência e à evasão escolar.
Durante a abertura do evento, o desembargador Mário Kono, que também preside o Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Soluções de Conflitos (Nupemec), defendeu que as escolas também se tornem entidades acolhedoras e formadoras de princípios e valores, cumprindo um papel social muito além da ‘simples’ formação pedagógica.
“Os círculos, através da atenção voltada aos alunos e aos profissionais, com uma escuta ativa e uma visão mais abrangente, tem o poder de enxergar além do aparente. Quando nós vemos um jovem se mutilando, nós sequer sabemos o que pode estar passando na vida desse jovem, e é através da escuta ativa que muitas coisas são descobertas, não só na identificação de problemas, mas na própria organização social, onde a participação democrática é de todos, inclusive dos alunos, com voz, vez e opinião garantidos. Isso sim, faz um sistema mais forte, evita violência e traz cidadania. Quanto mais atuante e eficaz a educação, menos processos chegarão no Judiciário e menos presídios precisarão ser construídos”, sublinhou Mário Kono.
O desembargador ainda alertou sobre a repetição de situações excludentes, que ao longo da vida acabaram sendo naturalizadas e consideradas normais pela sociedade. “Vou dar um exemplo simples, que passa despercebido por nós, de tanto que se tornou frequente. Vamos imaginar aquelas confraternizações que fazemos no trabalho para comemorar o aniversário de alguém, onde todos contribuem com algo, um bolo, um refrigerante, tudo muito bonito, e ao final daquilo, pega-se o que restou e entrega para o servidor da limpeza, no propósito de oferecer à ele algo para que possa comer ou levar para casa, sem notar que ali já houve a exclusão. Esse é um dos exemplos da necessidade de termos o olhar atento à dor que causamos ao outro”, defendeu.
O encontro reúne profissionais da rede estadual de educação, que atuam diretamente na expansão e no aprimoramento de práticas inovadoras ligadas à resolução pacificada de situações do cotidiano, com base no diálogo, no entendimento mútuo dos conflitos e no acolhimento.
O secretário de Estado de Educação, Alan Porto, falou sobre o trabalho para o alcance da paz nas escolas, desenvolvido em parceria com o Poder Judiciário.
“O grande papel do Estado é acolher bem o estudante e os profissionais de educação, garantindo o acesso à escola, sua permanência e o aprendizado. Quando nós começamos a nos aprofundar na busca de compreender porque a criança não está aprendendo, os motivos que levam à evasão e ao abandono da escola, as violências ligadas à ansiedade como a automutilação, daí vem a parceria da Secretaria de Educação com o sistema de justiça, na pessoa da desembargadora Clarice Claudino, grande entusiasta das praticas restaurativas, dentro das unidades escolares. E hoje nós estamos aqui para discutir e aprender sobre aquilo que vem dando certo dentro das escolas, quais as práticas que de fato estão fazendo a diferença e naquilo que ainda precisamos melhor, e nesse quesito, a parceria com a Poder Judiciário só engrandece nosso trabalho”, concluiu Alan Porto.
A assessora especial da presidência do Tribunal de Justiça para Justiça Restaurativa, Katiane Boschetti da Silveira, que ministrou a palestra “Diálogos e Práticas Restaurativas, uma possibilidade para a superação da violência escolar”, falou sobre as abordagens restaurativas que precisam ser inseridas no contexto escolar, e as mudanças pedagógica e cultural promovidas pelas vivências em círculos.
“Nosso objetivo aqui é convidar os professores, coordenadores, e todos os membros da comunidade escolar, para juntos buscarmos um caminho que seja diferente daquele que foi construído até aqui. Os espaços escolares são cheios de vida, cheios de movimento e por vezes cheios de trauma também, e de que forma a gente acolhe e escuta todas essas pessoas que estão na escola? Precisamos de mudanças e aprimorar aquilo que já estamos fazendo, para que nós possamos nos acolher, respeitar o nosso individuo e evitar o que temos vistos nas ultimas semanas. Que a partir dos círculos, nós possamos acolher as nossas necessidades, e buscar abordagens restaurativas, mas antes disso, é preciso viver essa outra forma de se relacionar, que é proporcionada pela vivencia em círculos”, definiu Katiane.
No período da tarde, a juíza Maria Lúcia Prati, titular da 2ª Vara e coordenadora do Centro Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania (Cejusc) da Comarca de Campo Verde, fará a apresentação do projeto “Eu e Você na Construção da Paz”, considerado referência pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), como modelo de pacificação nas escolas.
#Paratodosverem. Esta matéria possui recursos de texto alternativo para promover a inclusão das pessoas com deficiência visual. Primeira imagem: Desembargador Mário Kono faz uso da fala durante a abertura do Segundo Encontro de Práticas Restaurativas: Mediadores e Facilitadores de Círculos na atuação para Pacificação Social das Escolas.
Naiara Martins
Coordenadoria de Comunicação da Presidência do TJMT