O papa Francisco chegou nesta sexta-feira (22) em Marselha, no sudeste da França, para fazer um novo alerta sobre a crise migratória no mar Mediterrâneo. A visita acontece no mesmo dia em que a União Europeia (UE) anunciou um pacote de 127 milhões de euros (cerca de R$ 666 milhões) para a Tunísia a fim de conter o fluxo migratório que entra no continente pela ilha italiana de Lampedusa.
Em Marselha, Francisco disse que “salvar vidas no mar é um dever”. Em seu primeiro compromisso na cidade francesa, o Pontífice visitou um memorial que recorda as vítimas do oceano e alertou que o mar Mediterrâneo se transformou em um “enorme cemitério”.
Para o religioso, “pessoas que correm o risco de se afogar ao ser abandonadas nas ondas devem ser resgatadas”, porque “é um dever da humanidade, é um dever da civilização”.
UE quer coibir migração
Segundo a porta-voz da Comissão Europeia, Ana Pisonero, o pacote financeiro enviado à Tunísia se baseia na estreita cooperação para a repressão de redes de traficantes de pessoas, e a verba deverá ser oficializada e entregue nos próximos dias.
O anúncio vem na esteira de um acordo, anunciado em julho, entre a presidente da Comissão, Ursula von der Leyen; e os premiês da Itália, Giorgia Meloni, e da Holanda, Mark Rutte; e o líder da Tunísia, Kais Saied.
O memorando de entendimento assinado na ocasião era baseado em cinco pilares, incluindo a crise migratória, buscando coibir os fluxos irregulares no Mediterrâneo Central, que partem do norte da África com ingresso na Europa, principalmente pela ilha italiana de Lampedusa, que se encontra em estado de emergência pelo excesso de desembarques.
“A Comissão está acelerando tanto os programas ativos quanto ações no âmbito da assistência ligada ao memorando. Nos ajudarão a enfrentar a situação urgente que vemos hoje em Lampedusa, em linha também com o plano de 10 pontos anunciado”, explicou Pisonero.
Segundo ela, os líderes estão “empenhados em levar adiante a atuação do memorando”: “Dando prioridade, no campo da cooperação em matéria de migração, à repressão das redes de traficantes, e intensificando a assistência da UE para o desenvolvimento das capacidades das autoridades da Tunísia, além do apoio às repatriações de voluntários e reinserimento dos migrantes em seus países de origem com pleno respeito”.
Crise migratória na Itália
A viagem do papa e o pacote da UE acontecem em um momento em que a Itália tem vivido uma nova crise migratória.
Nas últimas semanas, milhares de migrantes desembarcaram na ilha de Lampedusa, fazendo a UE a adotar um plano para ajudar a Itália a administrar a rota migratória. Antes de deixar o país, o papa enviou um telegrama ao presidente da Itália, Sergio Mattarella, reforçando seu “objetivo de refletir sobre os desafios do acolhimento, da integração e da fraternidade, para favorecer o diálogo intercultural e promover caminhos de paz”.
Após o anúncio do pacote da UE à Tunísia, o vice-premiê e ministro das Relações Exteriores da Itália, Antonio Tajani, destacou a necessidade de diplomacia na abordagem do tema: “O governo italiano levou a questão à atenção das Nações Unidas e tivemos muitas respostas positivas, sobretudo dos países de partida e de quem quer colaborar”.
“É preciso muita diplomacia. Estamos trabalhando intensamente, já está diminuindo o número das pessoas que chegam da Tunísia e Líbia, há os primeiros resultados positivos. Precisamos de otimismo, determinação, seriedade. Não são necessários slogans, mas muito trabalho e é o que estamos fazendo”, concluiu Tajani.