O comissário-geral da agência da ONU para refugiados palestinos (UNRWA, na sigla em inglês), Philippe Lazzarini, afirmou nesta quinta-feira (16), em coletiva de imprensa em Genebra, na Suíça, que acredita que “há uma tentativa deliberada de estrangular e paralisar as operações” da agência na Faixa de Gaza.
Em sua fala, Lazzarini voltou a pedir pela entrada de combustível no enclave. Sem combustível, Gaza está sem comunicação , os hospitais estão parando, falta água potável e a UNRWA não consegue distribuir ajuda humanitária.
Desde o início da guerra entre Israel e Hamas, Gaza vive o que Lazzarini define como “seis semanas de total desrespeito pelo direito humanitário internacional”. De acordo com estimativas da ONU, mais de 70% da população do enclave se deslocou de suas casas em busca de locais mais seguros – segundo o comissário-geral da UNRWA, este é o maior deslocamento de palestinos desde 1948.
Os abrigos da ONU, que acolhem mais de 800 mil pessoas, vivem superlotação, e a agência afirma que não consegue mais ajudar a todas essas pessoas por conta da falta de combustível.
“É um êxodo sob nossa vigilância. Um rio de pessoas sendo forçadas a fugir de suas casas. O enclave encolheu agora pela metade”, afirma Lazzarini. “Foi pedido às pessoas que se deslocassem do norte para o sul, mas, na realidade, um terço dos colegas [da UNRWA] mortos foram mortos no sul. Então, o sul não é seguro. Mesmo os complexos da ONU não são seguros. 60 deles foram atingidos”, completa.
O comissário-geral da UNRWA afirma que, em alguns abrigos, “há apenas um banheiro disponível para 700 pessoas”. Até o momento, 103 mortes de funcionários da ONU foram confirmadas em Gaza. “Este é o número que conseguimos confirmar. A realidade é que podemos ter mais pessoas mortas. E me preocupo que alguns deles ainda estejam sob os escombros”, diz Lazzarini.
“Até ontem, 70% da população do sul não tinha acesso a água potável. E a partir de hoje temos esgoto bruto começando a fluir nas ruas. É evidente que, se a questão do combustível não for abordada, corremos o risco de ter de suspender toda a operação humanitária”, alerta ele.
A entrada de combustível em Gaza tem sido negada por Israel, que afirma que o item seria desviado para o Hamas, que poderia se beneficiar disso na guerra. Lazzarini rebateu essa possibilidade, afirmando que “a UNRWA não permite que ajuda seja desviada”.
“Em primeiro lugar, somos uma agência que implementa diretamente os seus programas. Não temos nenhum intermediário. Em segundo lugar, sempre que trabalhamos com fornecedores, estes são sistematicamente verificados relativamente a uma lista de sanções. Em terceiro lugar, todos os nomes do nosso pessoal são comunicados anualmente ao país anfitrião e, quando se trata do território palestiniano ocupado, também ao Estado ocupante, nomeadamente Israel”, diz.
“Acredito que é escandaloso que as agências humanitárias sejam reduzidas a mendigar combustível e depois disso forçadas a decidir quem iremos ajudar ou não, quando se tem uma população tão grande numa situação que salva vidas”, completa.