Edmundo González Urrutia, ex-candidato da oposição a Nicolás Maduro nas eleições venezuelanas de 28 de junho, autoproclamou-se, nesta segunda-feira (5), como “presidente eleito” do país bolivariano.
Por meio de comunicado nas redes sociais, González fez um apelo às Forças Armadas Nacionais Bolivarianas (FANB) e reivindicou sua vitória: “Obtivemos 67% dos votos, enquanto Nicolás Maduro obteve 30%. Essa é a expressão da vontade popular”, escreveu o opositor, citando números que divergem dos endossados pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE).
Venezolanos, ciudadanos militares y funcionarios policiales:
O iG Último Segundo conversou com especialistas para entender o que a autoproclamação de González representa para a Venezuela, que enfrenta uma crise eleitoral, e para a comunidade internacional, que, em grande parte, rejeita o resultado validado pelo CNE.
A reivindicação do cargo por González recebe apoio externo devido à pressão internacional sobre o governo de Maduro. No entanto, Regiane Bressan, especialista em América Latina e professora da Escola Paulista de Política, Economia e Negócios (EPPEN) da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), destaca que o poder de influenciar qualquer mudança política reside, na realidade, dentro do governo, especialmente entre os militares, e da sociedade venezuelana.
Segundo a professora, a nação é capaz de se manifestar por meio de protestos, que, no entanto, podem ser contidos. “A situação se complica porque os militares estão no governo. Qualquer grande protesto provavelmente será reprimido”, explica Bressan.
Quanto ao apoio militar à oposição, a professora da UNIFESP acredita que seja improvável. Ela relembra que, historicamente, as forças militares têm demonstrado lealdade ao governo de Chávez e continuam a apoiar Maduro, sem dissidências significativas.
A crise política no país, para Bressan, é profunda. A professora sugere que mesmo uma vitória de González não garantiria uma transição transparente de governo. “A força legal dessa autoproclamação seria limitada sem o reconhecimento das instituições nacionais e internacionais”, acrescenta.
Carlos Eduardo Martins, professor do Instituto de Relações Internacionais e Defesa (IRID) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), considera a autoproclamação de González como mais um episódio em uma série de tentativas de autoproclamação no país.
Ele destaca os interesses da oposição: “Há uma tensão entre as condições materiais da Venezuela sob embargo e sanções, e a superestrutura política criada durante a Revolução Bolivariana, centrada na democracia participativa”.
Para Martins, o movimento não é conduzido por forças democráticas, mas por interesses em recursos naturais venezuelanos, como petróleo, ouro, terras raras, água doce e biodiversidade. “Essas são as mesmas forças que vêm tentando, desde 2002, golpes de Estado na Venezuela e falhando repetidamente”, observa.
A tentativa de Juan Guaidó de autodeclarar-se presidente em 2019 é citada como um precedente, embora Guaidó não tenha disputado as eleições, ao contrário de González. Ambos os especialistas destacam como necessário observar a visão da comunidade internacional dessas tentativas.
“A comunidade internacional pode agora pressionar mais”, uma vez que González participou das eleições com Maduro, segundo a professora da UNIFESP. “Provavelmente haverá mais sanções e isolamento da Venezuela, o que não ajuda”, completa.
Para o professor da UFRJ, a tentativa de González tem potencial de enfraquecer, em parte, o governo de Maduro, por levar à formação de um grupo de países, como Brasil, México e Colômbia, que, embora apoiem Maduro e tenham reconhecido o resultado eleitoral, peçam a publicação das atas eleitorais.
Qual foi a reação do governo de Maduro?
A declaração divulgada por González nesta segunda-feira também é assinada pela ex-deputada, politicamente desqualificada, María Corina Machado, que, horas antes, emitiu declarações ameaçando “consequências terríveis” para o país se Maduro não cedesse à pressão da oposição, em declaração à Globo.
O Ministério Público (MP) da Venezuela anunciou, também nesta segunda-feira (5), a abertura de uma investigação criminal contra González e Machado. O MP venezuelano, comandado pelo procurador-geral Tarek William Saab, é alinhado ao presidente Nicolás Maduro.
El Ministerio Público de la República Bolivariana de #Venezuela ante el írrito comunicado difundido por Edmundo González y María Machado: #informa la apertura de una #Investigación Penal a fin de determinar su responsabilidad ante la presunta comisión de múltiples delitos #aquí … pic.twitter.com/229YZWFMkM
A nota, assinada por Saab, afirma que os opositores “atuaram às margens da Constituição” ao “anunciar falsamente” que González foi eleito presidente na eleição de 28 de junho. Eles serão investigados pelos seguintes crimes: usurpação de funções, divulgação de informação falsa para causar alarmismo, instigação à desobediência das leis, instigação à insurreição, e associação para delinquir e conspiração.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, confirmou nesta quinta-feira (12) que receberá seu homólogo chinês, Xi Jinping, em Kazan, no próximo mês de outubro, por ocasião da cúpula dos Brics.
O anúncio foi feito pelo mandatário russo durante encontro com o ministro das Relações Exteriores de Pequin, Wang Yi, em São Petersburgo, segundo a agência Interfax.
De acordo com Putin, as relações entre a China e a Rússia continuam a desenvolver-se “com muito sucesso em todas as direções”, incluindo a “coordenação no cenário internacional”.
Em imagens divulgadas pela mídia russa, Wang destacou que “o presidente Xi está muito feliz em aceitar o convite”.
“Nessa ocasião os dois chefes de Estado terão novas discussões estratégicas”, acrescentou o chanceler, destacando que ambos os líderes “estabeleceram uma confiança mútua sólida e uma amizade profunda”.
O ministro chinês chegou a São Petersburgo para participar da cúpula de altos funcionários e conselheiros de segurança nacional do bloco Brics. Sua visita também foi vista como uma oportunidade para lançar as bases do encontro presencial entre os líderes dos dois países.
A reunião dos Brics está marcada para acontecer entre 22 e 24 de outubro, na cidade russa de Kazan, e será o terceiro encontro presencial de 2024 entre Xi e Putin, poucas semanas antes das eleições presidenciais dos Estados Unidos, em novembro.
Formado inicialmente por Brasil, China, Índia e Rússia em 2009, o bloco foi ampliado com a adesão da África do Sul em 2010 e este ano incluiu vários outros países emergentes, como Egito e Irã. No início de setembro, a Turquia também apresentou um pedido de adesão ao bloco.