Jessica León, imigrante do Equador solicitando asilo, escalou um muro fronteiriço na terça-feira (4) com a filha de três anos, pisando em solo norte-americano em San Diego, Califórnia, poucas horas antes de uma nova proibição a pedidos de asilo entrar em vigor.
Ela e outra dúzia de imigrantes da Guatemala, Colômbia e Vietnã escalaram o muro e, imediatamente, se entregarem aos agentes de fronteira dos EUA. Eles foram orientados a andar para um lugar conhecido como Whiskey 8 – uma faixa empoeirada de território norte-americano entre dois muros de fronteira, um dividindo os EUA do México e o segundo, um obstáculo mais imponente, alguns metros mais ao norte.
O local de detenção a céu aberto tornou-se símbolo de um processo caótico de asilo dos EUA que, segundo o presidente norte-americano, Joe Biden, precisa desesperadamente ser reformado. Em um abrangente decreto anunciado na terça-feira, Biden implementou uma proibição a pedidos de asilos que permite que autoridades de imigração dos EUA rapidamente deportem imigrantes que cruzarem ilegalmente a fronteira para seus países de origem ou de volta para o México.
Ativistas de imigração criticaram a decisão de Biden, dizendo que ela espelha ações duras do seu antecessor republicano, o ex-presidente Donald Trump. Ambos se enfrentarão novamente na eleição norte-americana de 5 de novembro.
A União Americana pelas Liberdades Civis disse que planeja entrar com um processo contra as medidas de Biden.
Jessica León e sua filha chegaram apenas horas antes da política entrar em vigor, à 0h01, no horário da costa leste dos EUA, desta quarta-feira (20h01 de terça, em Brasília).
Alguns imigrantes requerentes de asilo chegaram sozinhos ao Whiskey 8. Outros que foram detidos pela Patrulha de Fronteira em outros lugares entre os dois muros foram levados ao local ou orientados a andar até lá para posterior processamento.
Ainda não se sabe ao certo por quanto tempo a rotina do Whiskey 8 continuará. Trabalhadores humanitários disseram que um grupo de 85 imigrantes se reuniu no local na manhã desta ontem, apesar da proibição ter entrado em vigor.
Assim como muitos que estavam na fila em Tijuana, México, esperando para cruzar a fronteira na terça-feira, os imigrantes que se inscreverem para um posto de entrada legal por meio de um aplicativo governamental no celular ainda poderão entrar.
“Completamente sozinha”
Tendo gasto seus últimos US$ 3 mil em uma jornada de um mês por terra do Equador, León, uma faxineira de 28 anos, disse que quer uma vida melhor para sua filha.
“Estou completamente sozinha com ela”, disse, olhando para a filha e chorando durante uma breve entrevista conduzida entre os pilares de uma cerca fronteiriça com nove metros de altura.
No Whiskey 8, assim batizado pela Patrulha de Fronteira, as pessoas têm acesso a trabalhadores humanitários, advogados de imigração e jornalistas que podem se reunir do outro lado. Os pilares do muro são espaçados o suficiente para que se possa conversar, entregar comida e água ou carregar o celular, mas próximos demais para um ser humano passar entre eles.
Questionada sobre por que deixou sua casa na cidade andina de Cuenca, León mencionou o clima criminoso — “eles matam, eles roubam, eles extorquem”.