Já vimos sobre o woke, sua origem e polêmicas nos EUA, onde o termo e o movimento se formaram. Mas o Brasil não passou ao largo dessas questões. Aqui, é fato, não se fala em movimento, mas em movimento “politicamente correto”, cujos contornos são basicamente os mesmos do woke (que, inclusive, se utiliza do politicamente correto em suas manifestações).
O grande problema do politicamente correto é a presunção, por parte de seus defensores, de uma superioridade moral originária. Como se trata de algo também vinculado ao pensamento progressista, ao pensamento de esquerda, logo se vê que tal postura acaba se manifestando também na política, tanto em termos ideológicos como partidários.
Talvez o ponto de cisão tenha sido, na política, a eleição de 2014. Na ocasião, por ocasião da campanha, o hoje presidente Lula defendeu estar existindo um embate “pobre contra rico” e parece ter surgido ali uma postura verificada naquela e nas eleições subsequentes: não se busca cooptar o eleitor de outro candidato, mas desqualificar a sua escolha.
O que isso tem a ver com o politicamente correto? Tem a ver porque, tal como nesta estrutura de “patrulha ideológica” típica do woke e do politicamente correto, o dissidente deve ser criticado ao ponto de não mais ser tratado como humano. A desumanização da divergência toma espaço, então, de modo claro.
E claro que isso terá efeitos em outros campos sociais. Claro que sim. Na universidade, pode-se correr o risco de selecionar professores ou projetos de pesquisa “sensíveis” a certas ideias, e recusar outros simplesmente por não se alinharem a isso.
Também nas artes, campo naturalmente fértil à diversidade, as regras do politicamente correto marcam presença, seja para escalar atores, determinar diretrizes publicitárias, escolher roteiros, impor determinadas versões de eventos históricos, dentre outros pontos.
Também na publicidade se podem detectar determinadas diretrizes alinhadas com uma dada linha de pensamento. Ainda pior é a tentativa de se reescrever obras literárias, quase centenárias, como foi o caso de Monteiro Lobato. Um dos maiores escritores brasileiros, com obra escrita há quase 80 anos, vem sendo acusado por alguns de racismo. Objetivamente, o escritor Marcelo Coelho, em 2021, declarou que “pode ser chato saber disso, mas Monteiro Lobato era de um racismo delirante”.
A questão é: e se ele for mesmo racista? Mais: sua obra seria uma simples homenagem ao racismo, ou é muito mais do que isso? A resposta é intuitiva. Sem contar que Lobato deve ser analisado em seu tempo, seu contexto, sua sociedade. Essa tentativa de deixar Lobato “limpinho” é uma das faces do politicamente correto. E uma face mais do que contestável. O escritor e filósofo Gustavo Bastos comenta o seguinte sobre o movimento woke e o politicamente correto:
“O maniqueísmo do movimento tende a entender os próprios valores como absolutos, inquestionáveis, e a hipersensibilidade é uma característica que leva a estas ondas de cancelamentos e de controle quase delirantes da linguagem (…) o Movimento Woke quando se torna deturpado e exagerado, perde o contato com a realidade mais elementar, de que há gradações na realidade e de que nem tudo é condenável ao menor deslize”.
Para quem quiser acessar mais material meu e de outros pesquisadores, deixo aqui o link do Instituto Convicção, do qual faço parte.
Uma das propostas da Chapa 2 – “Nova OAB” para fortalecer a inclusão dentro da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Mato Grosso (OAB-MT) é a criação de uma Comissão de Inclusão e Acessibilidade. De acordo com o candidato à presidência Pedro Paulo, o projeto visa garantir que advogados e advogadas que enfrentam dificuldades por conta de alguma deficiência encontrem portas abertas e todo suporte necessário dentro da entidade.
A ideia da implantação da comissão surgiu após sugestão da advogada Franciele Rahmeier, diagnosticada com transtorno do espectro autista. A jurista, que é candidata à secretária-geral da subseção de Primavera do Leste, declarou seu apoio a Pedro Paulo. Para ele, a Seccional mato-grossense precisa estar sempre aberta a ouvir, debater e criar medidas que garantam equidade também dentro da advocacia.
“Inclusão é conscientização. É ouvir, colocar-se no lugar do outro e permitir que cada um possa contribuir da melhor forma, com as suas experiências. Essa proposta vai auxiliar outros advogados e advogadas, que enfrentam as mesmas dificuldades da Drª Franciele, e assegurar a participação nas discussões sobre o tema em diversas esferas da política. Agradeço a ela por nos abrir os olhos para essa questão”, argumenta Pedro Paulo.
A advogada recebeu o diagnóstico há pouco mais de um ano, mas relata que desde antes tem enfrentado muitas dificuldades. Segundo ela, a principal é o julgamento preconceituoso que, muitas vezes, classifica essas pessoas como incapazes. Ainda conforme Franciele, dentro da própria OAB há esses obstáculos, principalmente quando se procura amparo para o desenvolvimento tranquilo da profissão.
“A gente precisa incluir para igualar essas classes. Tem muita gente que pergunta ‘cadê a OAB?’. A OAB, infelizmente, parece que tem medo de dar a cara a tapa em relação aos direitos que são nossos. O Pedro Paulo deu atenção a essa proposta não com teor político, mas com teor de acolhimento, no sentido de propor a mudança dessa realidade que temos hoje. Estávamos esquecidos e agora estamos sendo ouvidos”, afirma Franciele Rahmeier.
A chapa liderada por Pedro Paulo tem como vice-presidente a Drª Luciana Castrequini, como secretário-geral o Drº Daniel Paulo Maia Teixeira, a secretária-adjunta Drª Adriana Cardoso Sales de Oliveira e como tesoureiro o Drº Rodolpho Augusto Souza Vasconcellos Dias. O grupo, formado ainda por conselheiros titulares e suplentes, reúne membros da Capital e também de subseções do interior.