O físico ítalo-brasileiro e fundador e diretor do Museu da Amazônia (Musa), Ennio Candotti, morreu nesta quarta-feira (6), aos 81 anos de idade. O velório será realizado nesta sexta-feira (8), no Musa, de 9h às 15h. O museu, que fica em Manaus, permanecerá fechado a partir desta quinta-feira (7), sem data para reabertura.
Líder científico do país, Candotti foi eleito quatro vezes presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), com mandatos exercidos entre os anos de 1989 e 2007. Nos anos 1970, o físico foi uma importante figura contra as políticas nucleares do governo de Ernesto Geisel.
Em nota de pesar, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestou sua solidariedade aos familiares, amigos e alunos de Candotti. “Sempre foi comprometido com o desenvolvimento científico brasileiro e a preservação do meio ambiente”, afirmou. O físico também era professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).
Em comunicado nas redes sociais, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) também lamentou a morte de Candotti e destacou seu papel como “grande divulgador da ciência”. Em 1998, ele foi premiado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) com o prêmio Kalinga por sua contribuição pela popularização da ciência.
Nascido em 1942 na cidade de Roma, na Itália, Candotti e sua família vieram para o Brasil em 1952, por conta de uma crise econômica que atingiu o país na época. Em 1964, formou-se em física pela Universidade de São Paulo (USP), onde também estudou filosofia. Em 1965, foi para a Europa e fez especializações na Università degli Studi di Napoli, na Itália.
Anos mais tarde, em 1974, voltou ao Brasil, iniciando sua trajetória em defesa da política científica brasileira e em projetos de divulgação científica. Naturalizou-se brasileiro em 1983.
Na SBPC, em 1982, Candotti participou da criação da revista Ciência Hoje. Em 1988, esteve na Argentina implantando a revista Ciencia Hoy, que até hoje trabalha em parceria com a edição brasileira. Em 1996, foi dar aula na Ufes. Também lecionou na Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e na Universidade do Estado do Amazonas (UEA).
Na 59ª Reunião Anual da SBPC, realizada na Universidade Federal do Pará (UFPA), em 2007, Candotti estava em seu último mandato como presidente da SBPC e sugeriu, em uma das mesas da programação do evento, que fosse construído um museu dentro da floresta amazônica. Sua ideia ganhou forma 2 anos depois, e o pesquisador foi convidado a ser o diretor-geral do Museu da Amazônia (Musa), cargo que ocupou até o dia de sua morte.
O presidente da SBPC, Renato Janine Ribeiro, destacou o legado de Ennio Candotti, inclusive no campo político. “A perda de Ennio Candotti é um choque tremendo para todos nós. Ennio se destacou no começo dos anos 1990 quando, presidente pela primeira vez da SBPC, conduziu a comunidade científica na luta pelo impeachment de um presidente acusado de corrupção. Mais tarde, em 2003, foi novamente eleito para dirigir nossa sociedade. Seu papel na luta pela educação e divulgação científica foi notável, deixando como outro legado a revista Ciência Hoje e um sem-número de projetos e iniciativas que sempre prestigiou”, afirmou, em comunicado.
Em nota, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) disse que a morte do especialista deixa uma “lacuna irreparável na comunidade científica brasileira”.
“O professor Ennio Candotti foi uma figura ímpar, reconhecida por seu conhecimento e contribuições notáveis para o avanço da ciência no Brasil. Sua atuação em prol das questões amazônicas foi incansável ao longo de 15 anos, sendo um defensor apaixonado pelo estudo e preservação da biodiversidade da região. Seu legado será eternamente lembrado como exemplo de dedicação, comprometimento e amor pela ciência. A comunidade científica perde um grande líder, mas suas ideias e realizações continuarão a inspirar futuras gerações de pesquisadores”, afirmou o Inpa.
Para o presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Ricardo Galvão, Candotti era “um visionário e incansável batalhador pelos temas que considerava altamente relevantes para o país, um paladino apaixonado pela melhoria do conhecimento científico da sociedade brasileira e pela defesa da Amazônia”.
Galvão ressalta, ainda, seu forte espírito de luta, “não cedendo aos obstáculos que surgiram em seu caminho”.
“Todos nós brasileiros somos seus devedores pelo frutífero e desinteressado serviço prestado ao país”, disse, em comunicado do CNPq.