Com apenas seis meses, o governo Lula já começa a mostrar a que veio. A inflação despencou , a economia cresceu e o respeito internacional voltou. Ainda temos os juros a nos aporrinhar , herança maldita, mas é do jogo. O país é outro e até mesmo a reforma tributária, empacada no Congresso há décadas, conseguiu passar na Câmara. Com todas as dificuldades naturais de um governo formado por um leque mais amplo do que o desejado, única maneira de derrotar o Presidente fascista que tentava a reeleição, o governo vai conseguindo se firmar e ocupar os espaços possíveis.
Claro que, neste primeiro momento, é muito difícil a composição. São muitos os interesses que rondam o poder, ávidos para participar da partilha. Democracia é isso mesmo. Até os que foram derrotados, mas ajudam agora na governabilidade, colocam-se na disputa ferrenha por cargos e verbas. Alguns são verdadeiros camaleões e, mal tiraram a camisa escrota do bolsonarismo, já se sentam na janela e dão palpites na divisão da Esplanada.
O Presidente Lula terá que exercer, com maestria, o seu conhecido poder de persuasão e de certo encantamento, quase magia. Um operário que veio do Nordeste, fugindo da fome, e se tornou o maior líder político do mundo civilizado sabe, certamente, o que deve ser feito. Com paciência e sabedoria para sentar-se à mesa com as mais diversas tribos, o Brasil vai se firmando e enfrentando o caos deixado pela desastrada, corrupta e incompetente administração do Bolsonaro.
Mas o governo, qualquer um, ainda que fatiado, às vezes exageradamente, tem que ter cara. Algumas políticas públicas devem expressar a marca que levou milhões de pessoas sérias e com forte formação humanista a enfrentarem a barbárie bolsonarista nas ruas e nas urnas. Se Lula perder o controle da saúde, da educação, da economia, da segurança e do combate à fome e à miséria, o Brasil não avançará e o retrocesso civilizatório será inevitável.
A maioria dos adesistas quer cargo e dinheiro. O governo tem uma capilaridade que permite jogar carne fresca a esses grupos. Só tem que cuidar para que haja um controle ético e político nesse festival. Estamos saindo de uma política de terra arrasada, na qual um bando sem escrúpulos saqueou o país. E, o pior, implantou e fomentou o germe do fascismo, cultuando o ódio, a violência e a mentira. Sem nenhum pudor, estupraram a nação. Saber disso nos dá a noção das dificuldades pelas quais o governo Lula passa. Derrotar o fascismo, sentado em um cofre de dinheiro sem fundo, foi uma tarefa que apenas o Lula seria capaz.
Agora, é hora de avançar com governabilidade, cedendo apenas no que for inevitável para não deixar o fascismo voltar. Mas, com os olhos voltados para um Brasil que merece ser novamente sujeito da sua história. Afastar as nuvens tóxicas e densas que impregnavam nosso ar e voltar a respirar ares democráticos. Com quatro anos tendo o essencial nas mãos, as próximas eleições serão mais leves. A reeleição é sempre mais segura e não precisaremos daquele esforço hercúleo. E será possível ter um grupo mais coeso que represente aquilo que sonhamos e que o povo brasileiro merece. Aí é só torcer, até rezar, pela saúde e disposição do Lula para que o país possa voltar a ser mais igual, mais justo e mais humano. Nosso.
Lembrando-nos de Maya Angelou:
“Você pode me fuzilar com suas palavras,E me cortar com o seu olharVocê pode me matar com o seu ódio,Mas assim, como o ar, eu vou me levantar.”
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu na noite desta sexta-feira (6) demitir o ministro dos Direitos Humanos e Cidadania, Silvio Almeida, depois das denúncias de assédio sexual.
“O presidente considera insustentável a manutenção do ministro no cargo considerando a natureza das acusações de assédio sexual”, informou a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, em nota.
A Polícia Federal abriu investigação sobre o caso. A Comissão de Ética Pública da Presidência da República também abriu procedimento preliminar para esclarecer os fatos.
“O governo federal reitera seu compromisso com os Direitos Humanos e reafirma que nenhuma forma de violência contra as mulheres será tolerada”, completou a nota.
Silvio Almeida estava à frente do ministério desde o início de janeiro de 2023. Advogado e professor universitário, ele se projetou como um dos mais importantes intelectuais brasileiros da atualidade ao publicar artigos e livros sobre direito, filosofia, economia política e, principalmente, relações raciais.
Seu livro Racismo Estrutural (2019) foi um dos dez mais vendidos em 2020 e muitos o consideram uma obra imprescindível para se compreender a forma como o racismo está instituído na estrutura social, política e econômica brasileira. Um dos fundadores do Instituto Luiz Gama, Almeida também foi relator, em 2021, da comissão de juristas que a Câmara dos Deputados criou para propor o aperfeiçoamento da legislação de combate ao racismo institucional.
Acusações
As denúncias contra o ministro Silvio Almeida foram tornadas públicas pelo portal de notícias Metrópoles na tarde desta quinta-feira (5) e posteriormente confirmadas pela organização Me Too. Sem revelar nomes ou outros detalhes, a entidade afirma que atendeu a mulheres que asseguram ter sido assediadas sexualmente por Almeida.
“Como ocorre frequentemente em casos de violência sexual envolvendo agressores em posições de poder, essas vítimas enfrentam dificuldades em obter apoio institucional para validação de suas denúncias. Diante disso, autorizaram a confirmação do caso para a imprensa”, explicou a Me Too, em nota.
Segundo o site Metrópoles, entre as supostas vítimas de Almeida estaria a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, que ainda não se pronunciou publicamente sobre o assunto.
Horas após as denúncias virem a público, Almeida foi chamado a prestar esclarecimentos ao controlador-geral da União, Vinícius Carvalho, e ao advogado-geral da União, Jorge Messias. A Comissão de Ética da Presidência da República decidiu abrir procedimento para apurar as denúncias. A Secretaria de Comunicação Social (Secom) informou, em nota, que “o governo federal reconhece a gravidade das denúncias” e que o caso está sendo tratado com o rigor e a celeridade que situações que envolvem possíveis violências contra as mulheres exigem”. A Polícia Federal (PF) informou hoje que vai investigar as denúncias.
Em nota divulgada pela manhã, o Ministério das Mulheres classificou como “graves” as denúncias contra o ministro e manifestou solidariedade a todas as mulheres “que diariamente quebram silêncios e denunciam situações de assédio e violência”. A pasta ainda reafirmou que nenhuma violência contra a mulher deve ser tolerada e destacou que toda denúncia desta natureza precisa ser investigada, “dando devido crédito à palavra das vítimas”.
Pouco depois, a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, publicou em sua conta pessoal no Instagram uma foto sua de mãos dadas com Anielle Franco. “Minha solidariedade e apoio a você, minha amiga e colega de Esplanada, neste momento difícil”, escreveu Cida na publicação.