O presidente americano, Joe Biden, e sua vice-presidente, Kamala Harris, receberam na quinta-feira à noite Gershkovich, o ex-fuzileiro naval americano Paul Whelan e a jornalista Alsu Kurmasheva na base militar de Andrews, perto de Washington.
A chegada do grupo foi celebrada com gritos de alegria de parentes e amigos. Os três estão entre os 26 prisioneiros libertados na quinta-feira, na maior troca de prisioneiros entre a Rússia e o Ocidente desde a Guerra Fria.
“É uma sensação maravilhosa”, declarou Biden na base militar. Algumas horas antes, ele chamou o acordo de troca de “façanha diplomática”.
Um quarto prisioneiro, Vladimir Kara-Murza, um crítico russo do Kremlin com residência nos Estados Unidos, também está entre os libertados, mas retornou de maneira separada aos Estados Unidos.
Dez russos, incluindo dois menores de idade, foram trocados por 16 ocidentais e russos detidos na Rússia e em Belarus, informou a Presidência turca em um comunicado.
Após a troca, a Rússia descartou avanços diplomáticos com a Ucrânia, que as tropas de Moscou invadiram em fevereiro de 2022.
“Quando falamos de Ucrânia e de problemas internacionais mais complexos, os princípios são totalmente diferentes”, declarou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.
“Nunca voltarei para lá”
Os libertados viajaram nesta sexta-feira para San Antonio, Texas, onde passarão por exames médicos no Brooke Army Medical Center.
“Estou ansioso para ver minha família aqui e me recuperar de cinco anos, sete meses e cinco dias de total absurdo por parte do governo russo”, disse Whelan, de 54 anos.
“Estou feliz por estar em casa. Nunca mais voltarei para lá”, acrescentou o ex-fuzileiro naval, entre sorrisos, que foi detido na Rússia sob a acusação de espionagem.
O prisioneiro mais famoso é Gershkovich, 32 anos, detido na Rússia em março de 2023 quando fazia uma reportagem e condenado em julho a 16 anos de prisão, também por acusações de espionagem.
O The Wall Street Journal, para o qual Gershkovich trabalhava, afirmou que está “muito aliviado” com a libertação.
O presidente russo, Vladimir Putin, já havia dado uma recepção de herói aos prisioneiros libertados do seu país.
O Serviço Federal de Segurança (FSB) da Rússia confirmou que “oito cidadãos russos detidos em vários países da Otan e dois menores de idade” retornaram à Rússia como parte do acordo.
Entre os libertados estava Vadim Krasikov, cidadão russo encarcerado na Alemanha pelo assassinato de um ex-líder separatista checheno.
O governo alemão admitiu que aceitar liberar Karsikov não foi uma “decisão fácil” e o Kremlin confirmou nesta sexta-feira que ele era um agente do FSB, que serviu na unidade de elite Alfa.
“Salvar vidas”
A troca histórica aconteceu após meses de negociações secretas e envolveu a libertação de russos detidos por homicídio, espionagem e outros crimes.
O chefe de Governo alemão, Olaf Scholz, admitiu que a troca foi “difícil”, mas permitiu “salvar vidas”.
Parte dos libertados por Moscou e Minsk foram transferidos para Colônia, na Alemanha, entre eles Rico Krieger, um alemão sentenciado à morte por espionagem e indultado esta semana.
Também foi libertado o repórter espanhol de origem russa Pablo González, que estava detido na Polônia há mais de dois anos por suspeita de espionagem para Moscou, anunciou seu advogado, Gonzalo Boye.
O jornalista, nascido na Rússia, trabalhava para o jornal on-line Público e para a emissora de televisão La Sexta. Ele foi detido pelos serviços de inteligência poloneses perto da fronteira com a Ucrânia, em 28 de fevereiro de 2022, quatro dias após o início da invasão russa.
González, de 42 anos, “volta agora à liberdade após um injusto período de reclusão”, indicou Boye em um comunicado enviado à AFP.
No acordo também foram incluídos opositores do Kremlin, como Ilia Yashin e Vladimir Kara-Murza, detidos por criticar a invasão russa da Ucrânia.
Esta foi a primeira troca de prisioneiros entre Moscou e países do Ocidente desde a libertação, em dezembro de 2022, da jogadora de basquete americana Brittney Griner, detida na Rússia por um caso de drogas e trocada pelo famoso traficante de armas russo Viktor Bout, detido nos Estados Unidos.
As detenções de americanos na Rússia aumentaram nos últimos anos. Com essa tática, o Kremlin busca, segundo Washington, obter a libertação de russos condenados no exterior.