As negociações sobre um segundo cessar-fogo entre Israel e o grupo terrorista Hamas chegaram a um impasse dias antes do mês sagrado islâmico do Ramadã, que começou neste domingo (10) . As tramitações que deveriam ter sido retomadas foram paralisadas pela desconfiança. As autoridades israelenses não enviaram uma delegação para Cairo, no Egito, onde acontecem as conversas para o acordo de cessar-fogo em Gaza. O Hamas, por outro lado, quer garantias de que o cessar-fogo será duradouro, mas Israel teme assinar um acordo que poderá ser desconsiderado após a entrega do primeiro refém.
De acordo com o governo israelense, não foram enviados representantes à capital egípcia porque o Hamas não divulgou uma lista de sobreviventes sequestrados e mortos sob custódia, tampouco forneceu uma proporção de prisioneiros palestinos que seriam liberados das prisões israelenses por refém libertado.
Israel estima que 130 das 250 pessoas capturadas pelo grupo extremista em 7 de outubro ainda estão detidas em territórios palestinos, e pelo menos 31 delas estão mortas. Na semana passada, um porta-voz do Hamas afirmou à AFP que não sabia quantos reféns estavam vivos ou mortos, porque estavam escondidos em “múltiplos grupos e em locais diferentes”.
Diálogo
As principais conclusões obtidas na Fase 1 das negociações foram apresentadas:
Troca de 40 reféns em Gaza
Cessar-fogo de seis semanas
Libertação de 400 prisioneiros palestinianos
Aumento da ajuda humanitária na Faixa de Gaza
De acordo com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, Israel aceitou o acordo. No entanto, Sami Abu Zuhri, um dos representantes do Hamas, acusou Israel de “paralisar” os esforços de negociação ao recusar-se a pôr fim à ofensiva, retirar as tropas e garantir um livre fluxo de ajuda.
Na semana passada, Biden afirmou que a abordagem do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, no conflito em Gaza pode arruinar a imagem do país, dizendo que “ele está prejudicando Israel mais do que ajudando” . Além disso, o líder norte-americano pediu um cessar-fogo imediato.
“O que está acontecendo é que Netanyahu tem o direito de defender Israel, o direito de continuar a perseguir o Hamas, mas ele deve, ele deve prestar mais atenção às vidas inocentes sendo perdidas como consequência das ações tomadas”, afirmou Biden.
“Não sei exatamente o que o presidente quis dizer. Mas se ele quis dizer que estou adotando políticas privadas contra os desejos da maioria dos israelenses, e que isso está ferindo os interesses de Israel, então ele está errado”, disse Netanyahu, em entrevista ao site Politico. “Número um: essas não são minhas políticas privadas. Essas políticas são apoiadas pela ampla maioria dos israelenses”, respondeu Netanyahu.
Segundo Roberto Uebel, doutor em Estudos Estratégicos Internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e professor de Relações Internacionais da ESPM, Netanyahu tem atrapalhado as negociações.
“Netanyahu tem atrapalhado muito. Ele pegou muito poder pra si. Ele tem uma popularidade questionável em Israel e toma ações sem acionar o parlamento, o que se tornam ações unilaterais, que não tem construção democrática de condicionamento de um governante, e isso atrapalha qualquer tipo de negociação, qualquer tipo de chegada a um entendimento”, diz o especialista.
Uebel acrescenta: “Um lado não cede, e o outro até poderia ceder, mas não vai propor algo a mais se o outro não se comprometer”.
Cessar-fogo ou fim da guerra?
Na última quinta-feira (7), Hamas afirmou, durante reunião em Cairo, que o foco estava sendo somente na libertação de reféns, e não no fim dos bombardeios de uma forma definitiva.
O grupo extremista sugeriu entregar o restante dos reféns vivos e as dezenas de cadáveres e, em troca, Israel retiraria totalmente as tropas do Exército da Faixa de Gaza. Segundo as autoridades palestinas, desde o começo da guerra, em 7 de outubro , mais de 70% do território de Gaza já foi destruído devido ao conflito.
Israel, contudo, rejeita a proposta de Hamas, por medo de que a pressão internacional o impeça de uma nova retaliação na região.
Ainda, segundo a emissora local, al-Mayadeen, o impasse ocorre pela “insistência da parte israelense em não fornecer respostas claras”. Em Israel acontece ao contrário, eles não acreditam na palavra do grupo extremista.
Se não houver um cessar-fogo, a previsão, de acordo com o cenário atual, é de que haja “um número muito alto de mortos e o que restar da população da Faixa de Gaza será totalmente controlada por Israel, acho que esse é um cenário mais provável hoje”, afirma Uebel.
No domingo (10), Ismail Haniyeh, um dos líderes do Hamas, anunciou que o grupo queria um acordo que colocasse fim à guerra, garantisse a retirada das forças de Israel da Faixa de Gaza e devolvesse os palestinos deslocados às suas casas, além de fornecer aos moradores de Gaza toda ajuda humanitária.
Israel “quer recuperar os seus prisioneiros e depois retomar a guerra contra o nosso povo”, acusou Haniyeh.
Em contrapartida, Netanyahu declarou também nesse domingo que não estava próximo um acordo de cessar-fogo. O primeiro-ministro israelense disse que gostaria de outra libertação de reféns. “Sem nova liberação, não haverá pausa nos combates”, afirmou.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, confirmou nesta quinta-feira (12) que receberá seu homólogo chinês, Xi Jinping, em Kazan, no próximo mês de outubro, por ocasião da cúpula dos Brics.
O anúncio foi feito pelo mandatário russo durante encontro com o ministro das Relações Exteriores de Pequin, Wang Yi, em São Petersburgo, segundo a agência Interfax.
De acordo com Putin, as relações entre a China e a Rússia continuam a desenvolver-se “com muito sucesso em todas as direções”, incluindo a “coordenação no cenário internacional”.
Em imagens divulgadas pela mídia russa, Wang destacou que “o presidente Xi está muito feliz em aceitar o convite”.
“Nessa ocasião os dois chefes de Estado terão novas discussões estratégicas”, acrescentou o chanceler, destacando que ambos os líderes “estabeleceram uma confiança mútua sólida e uma amizade profunda”.
O ministro chinês chegou a São Petersburgo para participar da cúpula de altos funcionários e conselheiros de segurança nacional do bloco Brics. Sua visita também foi vista como uma oportunidade para lançar as bases do encontro presencial entre os líderes dos dois países.
A reunião dos Brics está marcada para acontecer entre 22 e 24 de outubro, na cidade russa de Kazan, e será o terceiro encontro presencial de 2024 entre Xi e Putin, poucas semanas antes das eleições presidenciais dos Estados Unidos, em novembro.
Formado inicialmente por Brasil, China, Índia e Rússia em 2009, o bloco foi ampliado com a adesão da África do Sul em 2010 e este ano incluiu vários outros países emergentes, como Egito e Irã. No início de setembro, a Turquia também apresentou um pedido de adesão ao bloco.