Segundo José Alexandre Hage, professor de Relações Internacionais da Unifesp, será difícil para Lula equilibrar a relação diplomática com Israel e o apoio de grupos de esquerda, que têm na causa palestina uma das principais bandeiras,
“Em essência, o governo Lula tem como base os partidos que, tradicionalmente, têm uma posição favorável à Palestina. E, ao mesmo tempo, não pode negligenciar a situação de Israel. Porque, além de ter um relacionamento antigo com o país, foi justamente o diplomata brasileiro que apoiou a criação do estado. Vai ser muito difícil se posicionar, mas caminhar numa corda bamba, por muito tempo, não é fácil. Uma hora ele vai ter que cair”, comenta.
Para Roberto Uebel, Professor de Relações Internacionais da ESPM Porto Alegre, essa é a oportunidade perfeita para recolocação do Brasil perante a comunidade internacional.
“É um momento muito especial para a diplomacia brasileira entrar em campo, entrar em jogo de fato e poder fazer as negociações, as intermediações entre todos os lados. Claro que não estou falando aqui de diálogo com um grupo terrorista, mas sim diálogo entre o Estado de Israel e o Estado da Palestina para a construção de uma agenda mais pacífica para aquela região”, declara.
Os especialistas acreditam Lula usará da ocasião para pleitear uma reforma no Conselho, visando uma vaga permanente para o Brasil no bloco , composto por 15 países, dos quais cinco têm assento garantido e poder de veto: China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia.
Já no sábado (7), o presidente Lula emitiu uma nota condenando o ataque e dizendo-se “chocado” com as imagens da guerra. Ele reiterou que a posição do Brasil é de resolução pacífica do conflito e de coexistência dos dois Estados, como prevê a carta da ONU.
“O Brasil não poupará esforços para evitar a escalada do conflito, inclusive no exercício da Presidência do Conselho de Segurança da ONU”, escreveu o presidente em uma rede social.
Segundo Roberto Uebel, o posicionamento do presidente mostrou que “o Brasil não está passivo face a esse conflito internacional”. Diferentemente da guerra da Ucrânia, em que Lula foi criticado por demorar a se reunir com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.
“Agora o Brasil faz uma virada de chave. O Brasil mostra que está atento ao que está acontecendo em Israel e, presidindo o Conselho de Segurança das Nações Unidas, ainda que temporariamente, pode mediar o diálogo, as negociações, enfim, se voltar para a resolução do conflito e condenação do grupo terrorista que cometeu esses atentados e esses ataques nos últimos dias”, opina.
O Itamaraty defende uma solução pacífica para os dois países, reforçando a necessidade da criação de um Estado Palestino. “O governo brasileiro reitera seu compromisso com a solução de dois Estados, com um Estado Palestino economicamente viável, convivendo em paz e segurança com Israel, dentro de fronteiras mutuamente acordadas e internacionalmente reconhecidas”, explicou a pasta.
A Força Aérea Brasileira disponibilizou seis aeronaves para repatriação de brasileiros que moram em Israel, na Cisjordânia e na Faixa de Gaza. Um deles já está em Roma esperando aval para pousar em Tel-Aviv.
O professor José Alexandre Hage chama atenção para o fato de que as aeronaves serão usadas também para deslocamento de cidadãos não brasileiros, o que também traz destaque para a diplomacia nacional.
“O Brasil vai oferecer transporte para quem é argentino, peruano, colombiano, ou o que esteja lá em Israel e que queira aproveitar a chance de sair. Isso é bastante nobre, mas, para isso, precisará de colaboração da União Europeia”, afirma.
No sábado (7), o Hamas enviou cerca de cinco mil foguetes em direção a território israelense. O país de maioria judaica revidou, lançando uma ofensiva terrestre e aérea, além de bloquear a entrada de suprimentos para a Faixa de Gaza. Até o momento, a contagem de mortos está em 800 israelenses e 560 palestinos, além de 4.500 feridos.