Na noite desta terça-feira (12), as Nações Unidas (ONU) usaram uma rota terrestre inédita ao sul de Israel para levar ajuda humanitária ao norte de Gaza. O comboio de seis caminhões levou a primeira remessa a ser entregue pela ONU em três semanas, uma vez que as entregas haviam sido restringidas devido aos tumultos, como o bloqueio das Forças Israelenses, saques e ataques a tiros contra as multidões de palestinos famintos.
Além disso, a entrega desta terça foi a primeira que utilizou a nova rota sob permissão de Tel Aviv – desde o início do conflito em 7 de outubro, o único caminho autorizado pelo governo israelense é via Kerem Shalom, aprovada em dezembro como entrada “temporária”.
De acordo com os militares, citados pela agência al-Jazeera e pelo New York Times, o comboio transportava recursos do Programa Alimentar Mundial da ONU (PAM) e passou pelo portão 96 da cerca de segurança, um ponto próximo a kibutz Be’eri, no sul de Israel.
“Isto foi feito como parte de um projeto-piloto para evitar que o Hamas assumisse a ajuda”, escreveram as forças em uma publicação no X (antigo Twitter). Antes de entrar, os caminhões passaram pela inspeção israelense perto do sul da Faixa.
O coordenador de ajuda humanitária da ONU para Territórios Palestinos Ocupados, Jamie McGoldrick, afirmou em entrevista à Reuters que a organização estava pressionando Israel há semanas para abrir um ponto de passagem que chegasse ao norte do enclave. Os seis caminhões do PAM passaram por essa entrada na terça, disse o coordenador.
De acordo com o coordenador do PAM, foram entregues alimentos suficientes para 25 mil pessoas na cidade de Gaza. Segundo a agência, o comboio foi o primeiro “bem-sucedido para o norte desde 20 de fevereiro” e que, devido à gravidade da fome no enclave, são necessários “mais pontos de entrada diretamente para o norte”.
Como mencionado, há apenas um ponto de passagem terrestre israelense permitido para a entrada de ajuda humanitária em Gaza: Kerem Shalom, na fronteira da Faixa de Gaza com Israel, no sul. Grande parte dos comboios transita pela passagem de Rafah, na divisa com a Península do Sinai egípcia, que foi aberta em dezembro após os EUA pressionarem para acelerar o fluxo de ajuda humanitária aos palestinos.
Crise humanitária
A crise humanitária no norte de Gaza atingiu proporções alarmantes após os primeiros avanços militares de Israel em resposta ao ataque liderado pelo Hamas em 7 de outubro, que desencadearam o conflito. De acordo com dados do Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU (Ocha), mais de 500 mil pessoas já enfrentam fome ou situações de catástrofe humanitária, enquanto praticamente toda a população de 2,4 milhões de habitantes enfrenta escassez severa de alimentos. O Ministério da Saúde de Gaza relatou mais de 20 mortes por inanição, com pelo menos metade delas sendo menores de idade.
Desde então, a pressão internacional tem aumentado sobre Israel para resolver a crescente crise humanitária. As Nações Unidas alertaram para o risco iminente de fome se o acesso a alimentos e outras necessidades básicas não for melhorado, especialmente no norte.
Primeiro navio com ajuda humanitária deixa Chipre e parte rumo a Gaza
O corredor marítimo da União Europeia (UE), entre o Chipre e a Faixa de Gaza, foi inaugurado tamém nesta terça. De acordo com a ONG espanhola Open Arms, uma embarcação saiu do porto cipriota de Larnaca às 3h50 (horário de Brasília) carregando quase 200 toneladas de alimentos rumo ao enclave palestino.
O Chipre é o país da União Europeia mais próximo da Faixa de Gaza, a 370 quilômetros de distância. Entretanto, mesmo com a inauguração da rota marítima e a recente implementação da rota aérea, os grupos de ajuda internacional alertam que as entregas terrestres ainda devem ocorrer adequadamente em Gaza. Os grupos argumentam que a medida é ineficaz e desvia a atenção de outras prioridades, como pressionar Israel a definir um cessar-fogo, por exemplo.
“É mais fácil, mais rápido e mais barato, especialmente se soubermos que precisamos sustentar a assistência humanitária para os habitantes de Gaza por um longo período de tempo” afirmou a coordenadora de ajuda da ONU para o território palestino, Sigrid Kaag, em reunião do Conselho de Segurança na quinta passada (7). “O ar ou o mar não substituem o que precisamos ver chegar por terra”, afirmou.