SAÚDE

Evalcilene Santos: Política para mulheres e a volta da esperança

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O laço vermelho é símbolo da luta contra a AIDS

Estamos em um momento histórico para as mulheres. Depois de 70 anos de existência do Ministério da Saúde, em 2023 temos a primeira mulher a chefiar essa importante pasta que cuida da saúde de todos os brasileiros e daqueles que moram no Brasil.

Tenho 24 anos de sorologia positiva para HIV. Nessa minha trajetória de vida ou reconstrução de um novo contexto de viver, tive que descobrir que viver com HIV/AIDS não era só ter com uma patologia. Era lutar pela minha sobrevivência e de outras pessoas, principalmente mulheres. O preconceito, o estigma e a discriminação até hoje acompanham a vida de pessoas com HIV/AIDS. Corpos femininos são esquecidos por uma política que já foi referência de qualidade no Brasil. A feminização da AIDS é pouca ou nada falada. Assim, nós sofremos com a falta de política para todas as mulheres, vivendo ou não com HIV/AIDS.

Como militante e ativista, luto para garantia de direitos e políticas públicas para todas as pessoas. Li e vi nos últimos anos que o Ministério da Saúde não nos deu uma resposta que garantisse uma vida de qualidade para as mulheres vivendo com HIV/AIDS, nem prevenção, nem tratamento, nem cuidado em rede, desde a descoberta dessa epidemia.

Minha imagem como mulher empoderada e vista como liderança foi usada por muitos anos por políticos partidários para conquistar votos na esperança que esses pudessem nos apoiar. Após eleitos, o apoio foi bem pouco ou quase nada. Em 2022 tive o meu primeiro convite pelo PSOL, a qual estou filiada, para disputar uma vaga na Assembleia Legislativa Estadual e, logo depois, por mudanças na direção local, convidada a pleitear uma vaga na Câmara Federal. Não foi fácil por eu ser mulher, pobre, periférica e sem experiência em política partidária, mas encarei esse desafio para dar recado aos políticos que me usaram por muito tempo e para dizer que podemos ter uma patologia com toda problemática que ela trás, MAS não somos essa patologia. Que podemos também ser uma representante política e assim poder implantar ou implementar políticas publicas que sempre lutamos para ter.

Não foi dessa vez, só que agora tenho uma expectativa e um olhar melhor para o desconhecido, mundo que jamais pensei em entrar. A força da luta pela sobrevivência foi maior. O mundo viu o quanto o ex-presidente do Brasil,  genocida, tentou nos retirar o pouquinho de política que temos e o nosso direito de viver.

Hoje, como mulher vivendo com HIV/AIDS, tenho a esperança que podemos mudar esse cenário sombrio e triste deixado a todas as pessoas habitantes de terras brasileiras. Temos 11 MINISTRAS representativas, de importantes políticas, mulheres que também não ficam de fora de todas as violências sofridas todos os dias só por ser mulher. Tenho a esperança que a Ministra da Saúde, Nísia Trindade, possa olhar nossas inúmeras propostas em cartas, manifesto, reivindicações e retirá-las do papel, transformando-as em políticas públicas direcionadas para mulheres vivendo com HIV/AIDS, assim como todas as demais pastas do governo.

Esperança essa de esperançar, de não ficar quieta esperando que as mudanças aconteçam. Esperança de poder ter um diálogo acessível com representantes públicos que queiram realmente garantir e salvar vidas de todas as mulheres, entre elas, as que vivem com HIV/AIDS.

Hoje, nossas reinvindicações são por novas tecnologias de prevenção, pesquisas para novos medicamentos e tratamento para o corpo feminino, observando o envelhecimento das mulheres vivendo com HIV/AIDS; A garantia de direitos reprodutivos, saúde sexual, sigilo da sorologia; Políticas públicas adequadas e com qualidade para a vida de todas as mulheres HIV+ em todas fazes da vida.

Lembrando que não andamos só! Que nada sobre nós sem nós!

* Evalcilene Santos é professora, militante e Redutora de Danos. É presidente da Associação de Redução de Danos do Amazonas, Cofundadora e Articuladora do Movimento Brasileiro de Redução de Danos e membro do Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas (MNCP).

** Artigo orinalmente publicado no  site da Agência de Notícias da Aids .

*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Portal iG.

Fonte: IG SAÚDE

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