Diante dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), estabelecidos pelo Pacto Global em uma iniciativa da ONU, em 2004, foi cunhado o termo ESG, sigla em inglês para “Meio Ambiente, Social e Governança”. Ainda pouco conhecido fora do círculo corporativo, o termo refere-se à adoção de condutas sustentáveis, éticas e inclusivas que proporcionem maior qualidade de vida a todos.
Devido a isso, o número de empresas que têm adotado o método, ou pelo menos declaram ser, vem crescendo nos últimos anos. Porém, existe uma diferença importante entre ser adepto a esse modelo de gestão e implementá-la, de fato, na rotina diária da companhia.
“O ESG praticado de forma correta pelas empresas seria aquele que alinha o discurso à prática corporativa, aquele que transporta o lema ‘missão, visão e valores’ do seu site institucional para a era da ação. Quanto aos exemplos de práticas equivocadas, seria dizer que já pratica o ESG porque faz filantropia, tem ações sociais, manual de conduta, mas na prática os colaboradores não enxergam e não acreditam nessa forma de divulgação”, diz Caroline Palermo, coordenadora do MBA em ESG da Trevisan Escola de Negócios.
Fatores que prejudicam o ESG
Um dos equívocos cometidos pelas empresas que fracassaram ao tentar implementar esse modelo de gestão , que se tornou a “bola da vez” do mercado corporativo, é acreditar que apenas melhorar a qualidade do seu espaço físico, beneficiando os seus colaboradores com isso, já a credencia para ser considerada uma companhia que é praticante deste formato de governança.
“Temos sido procurados com frequência por empresas que revelam esse propósito de mudar a estrutura do escritório com um projeto que, na sua visão, poderia ajudá-la a implementar o ESG, mas um escritório ‘bacana’ não faz dela uma companhia que age de acordo com esse modelo de gestão”, ressalta a arquiteta Erica Prata, diretora de operações da AKMX Arquitetura e Engenharia, companhia com 20 anos de experiência no mercado corporativo. “A arquitetura é uma aliada. Mas, para uma empresa ser considerada uma legítima praticante do ESG, ela tem que ir além e realizar ações que produzam um impacto social e ambiental na comunidade na qual ela está inserida”, diz a especialista.
Caroline Palermo, por sua vez, destaca que a implantação bem-sucedida desta filosofia de governança sustentável só é possível se o comando maior da empresa cumprir com os preceitos exigidos para a prática desse modelo. “O erro é sempre tentar começar pelo departamento de marketing sem que a alta gestão esteja plenamente comprometida com os pilares ESG”, enfatiza a especialista.
ESG é uma tendência em crescimento
Uma pesquisa recente divulgada pelo Google, realizada em parceria com a plataforma MindMiners e o Sistema B, ouviu três mil brasileiros com mais de 18 anos de idade, de todas as regiões do país. Ela apontou que 47% das pessoas deste grupo não conseguiram citar uma única empresa que adotasse a prática do ESG. Para completar, apenas uma de cada cinco entrevistadas pela gigante mundial de tecnologia disse já ter ouvido algo sobre esse tema. Entretanto, 87% dos que receberam uma explicação sobre como é essa prática admitiram considerar que é importante as companhias adotá-la em sua administração.
Maneiras de implementar o modelo ESG
Em meio ao pouco conhecimento geral sobre o assunto, Fabrício Soler, professor coordenador dos cursos de Compliance Ambiental e ESG da Trevisan Escola de Negócios, diz que não existe um manual-padrão para a implantação desse modelo de gestão. Porém, aponta caminhos para atingir essa meta.
“Cada empresa precisa construir uma matriz de risco para traçar suas vulnerabilidades e como mitigá-las, olhando para os pilares ambientais, sociais e de governança corporativa; mas claro que existem fatores comuns, como ética na cadeia de fornecedores, trabalho justo, licenças ambientais, compliance , canal de denúncias, entre outros”, afirma o professor.
Caroline também ressalta que existem diversas ações as quais podem ser realizadas para implementar o ESG. Ademais, pondera que esses movimentos devem começar pela “conscientização da alta gestão e dos colaboradores, seguida por um mapeamento de riscos atrelado aos indicadores de sustentabilidade”.
Já Fabrício Soler analisa que a adoção dessa prática é um caminho sem volta e que vai avançando a cada dia. “Agora, as empresas agem por inteligência , porque estamos nos adaptando e não há uma regulamentação global, mas logo será por meio de compliance . O mercado apresenta indícios nesse sentido com resoluções, consultas públicas e certificações”, finaliza o especialista.
Os brasileiros ainda não sacaram R$ 8,56 bilhões em recursos esquecidos no sistema financeiro até o fim de julho, divulgou nesta sexta-feira (6) o Banco Central (BC). Até agora, o Sistema de Valores a Receber (SVR) devolveu R$ 7,67 bilhões, de um total de R$ 16,23 bilhões postos à disposição pelas instituições financeiras.
As estatísticas do SVR são divulgadas com dois meses de defasagem. Em relação ao número de beneficiários, até o fim de julho, 22.201.251 correntistas haviam resgatado valores. Apesar de a marca ter ultrapassado os 22 milhões, isso representa apenas 32,8% do total de 67.691.066 correntistas incluídos na lista desde o início do programa, em fevereiro de 2022.
Entre os que já retiraram valores, 20.607.621 são pessoas físicas e 1.593.630, pessoas jurídicas. Entre os que ainda não fizeram o resgate, 41.878.403 são pessoas físicas e 3.611.412, pessoas jurídicas.
A maior parte das pessoas e empresas que ainda não fizeram o saque tem direito a pequenas quantias. Os valores a receber de até R$ 10 concentram 63,01% dos beneficiários. Os valores entre R$ 10,01 e R$ 100 correspondem a 25,32% dos correntistas. As quantias entre R$ 100,01 e R$ 1 mil representam 9,88% dos clientes. Só 1,78% tem direito a receber mais de R$ 1 mil.
Depois de ficar fora do ar por quase um ano, o SVR foi reaberto em março de 2023, com novas fontes de recursos, um novo sistema de agendamento e a possibilidade de resgate de valores de pessoas falecidas. Em julho, foram retirados R$ 280 milhões, alta em relação ao mês anterior, quando tinham sido resgatados R$ 270 milhões.
Melhorias
A atual fase do SVR tem novidades importantes, como impressão de telas e de protocolos de solicitação para compartilhamento no WhatsApp e inclusão de todos os tipos de valores previstos na norma do SVR. Também haverá uma sala de espera virtual, que permite que todos os usuários façam a consulta no mesmo dia, sem a necessidade de um cronograma por ano de nascimento ou de fundação da empresa.
Além dessas melhorias, há a possibilidade de consulta a valores de pessoa falecida, com acesso para herdeiro, testamentário, inventariante ou representante legal. Assim como nas consultas a pessoas vivas, o sistema informa a instituição responsável pelo valor e a faixa de valor. Também há mais transparência para quem tem conta conjunta. Se um dos titulares pedir o resgate de um valor esquecido, o outro, ao entrar no sistema, conseguirá ver as informações: como valor, data e CPF de quem fez o pedido.
Expansão
Desde a última terça-feira (3), o BC permite que empresas encerradas consultem valores no SVR. O resgate, no entanto, não pode ser feito pelo sistema, com o representante legal da empresa encerrada enviando a documentação necessária para a instituição financeira.
Como a empresa com CNPJ inativo não tem certificado digital, o acesso não era possível antes. Isso porque as consultas ao SVR são feitas exclusivamente por meio da conta Gov.br.
Agora o representante legal pode entrar no SVR com a conta pessoal Gov.br (do tipo ouro ou prata) e assinar um termo de responsabilidade para consultar os valores. A solução aplicada é semelhante ao acesso para a consulta de valores de pessoas falecidas.
Fontes de recursos
No ano passado, foram incluídas fontes de recursos esquecidos que não estavam nos lotes do ano passado. Foram acrescentadas contas de pagamento pré ou pós-paga encerradas, contas de registro mantidas por corretoras e distribuidoras encerradas e outros recursos disponíveis nas instituições para devolução.
Além dessas fontes, o SVR engloba os seguintes valores, já disponíveis para saques no ano passado. Eles são os seguintes: contas-corrente ou poupança encerradas; cotas de capital e rateio de sobras líquidas de ex-participantes de cooperativas de crédito; recursos não procurados de grupos de consórcio encerrados; tarifas cobradas indevidamente; e parcelas ou despesas de operações de crédito cobradas indevidamente.
Golpes
O Banco Central aconselha o correntista a ter cuidado com golpes de estelionatários que alegam fazer a intermediação para supostos resgates de valores esquecidos. O órgão ressalta que todos os serviços do Valores a Receber são totalmente gratuitos, que não envia links nem entra em contato para tratar sobre valores a receber ou para confirmar dados pessoais.
O BC também esclarece que apenas a instituição financeira que aparece na consulta do Sistema de Valores a Receber pode contatar o cidadão. O órgão também pede que nenhum cidadão forneça senhas e esclarece que ninguém está autorizado a fazer tal tipo de pedido.