A Igreja Católica está preocupada com o ressurgimento do antissemitismo como resultado da guerra entre Israel e o grupo fundamentalista islâmico Hamas e considera cada ataque aos judeus “um golpe para si mesma”, alertou o cardeal Matteo Zuppi nesta segunda-feira (13).
A declaração foi dada pelo enviado do papa Francisco para promover a paz durante a Assembleia Geral da Conferência Episcopal Italiana (CEI) em Assis.
“O ressurgimento do antissemitismo nestas horas é preocupante”, afirmou Zuppi, também presidente da CEI.
“Que os nossos irmãos judeus italianos saibam que a Igreja não só está próxima deles, mas que considera cada ataque contra eles, inclusive de natureza verbal, como um golpe contra si mesma e uma expressão blasfema de ódio”, acrescentou.
Zuppi reforçou que a Igreja não ficará indiferente, porque “o fim do antissemitismo é um compromisso educativo, religioso e cívico da Igreja italiana, que não subestima o renascimento do ódio e do racismo, para ninguém”.
Sobre o controverso acordo alcançado por Roma e Tirana na semana passada para que a Itália criasse centros de migrantes na Albânia, Zuppi disse esperar “que os direitos humanos dos requerentes de asilo sejam respeitados” e que “a externalização não pode ser a solução”.
Para o cardeal, “é necessária uma ação europeia coletiva, comum e partilhada” sobre os migrantes.
Por sua vez, o Conselho Europeu manifestou a sua preocupação com o acordo Itália-Albânia, que prevê o processamento anual na Albânia de até 36 mil migrantes e refugiados resgatados pelas autoridades italianas no Mediterrâneo central, incluindo requerentes de asilo provenientes dos chamados países de origem que estão sujeitos a procedimentos especiais acelerados, em centros para operar sob jurisdição italiana.
“O Memorando de Entendimento entre a Itália e a Albânia sobre o desembarque e o processamento de pedidos de asilo, concluído na semana passada, levanta várias preocupações em matéria de direitos humanos e contribui para uma preocupante tendência europeia para a externalização das responsabilidades de asilo”, afirmou Dunja Mijatović, a comissária do Conselho da Europa para os Direitos Humanos.
As preocupações dizem respeito às questões como o desembarque, o impacto nas operações de busca e salvamento, a equidade dos procedimentos de asilo, a identificação de pessoas vulneráveis, a possibilidade de detenção automática sem controle judicial adequado, as condições de detenção, o acesso a assistência jurídica e soluções eficazes, acrescentou Mijatović.
Segundo a comissária europeia, o memorando de entendimento cria um “regime de asilo extraterritorial caracterizado por muitas ambiguidades jurídicas”.
Em relação à crise migratória, Zuppi reiterou que “precisamos de uma Europa consciente, responsável e verdadeiramente unida que não deixe a Itália sozinha”.
Sobre os planos do governo de reformar a Constituição para introduzir a eleição direta de primeiro-ministro pelo povo italiano, Zuppi afirmou que, para que tal mudança seja eficaz, todos os componentes políticos, culturais e sociais da sociedade precisam estar envolvidos, “como foi o caso na origem da Constituição”.
“Ainda estamos muito longe disso e só posso repetir o convite, para que a Constituição seja de todos e seja sentida por todos”, concluiu.