Quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assumiu a presidência, encontrou o dólar a R$ 5,48. Nesta sexta-feira (30) a moeda americana caiu mais 1,19% e fechou o dia vendida a R$ 4,82, quase 12%% (11,97%) a menos do que no início do mandato.
Apesar da queda no semestre, prever a taxa de câmbio não tem sido fácil para analistas do mercado financeiro. Entre os fatores que tem tornado a tarefa mais complicada estão as taxas de juros, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, a incerteza quanto ao futuro da política fiscal e o comportamento da inflação.
Nestes seis meses, o Banco Central do Brasil optou por duas vezes seguidas pela manutenção da taxa Selic em 13,75% ao ano, mesmo sofrendo pressão pela redução e o Fed (Federal Reserve, Banco Central americano) elevou a sua taxa para o intervalo de 5% a 5,25% ao ano.
Segundo Anderson Domingos, professor e consultor Favos Invest, no cenário internacional, a pressão dos países dos Brics para usar outra moeda nas transações internacionais também já influencia na taxa de câmbio.
Já o novo arcabouço fiscal avançou da Câmara ao Senado, mas agora voltou à Casa Baixa, onde enfrenta um impasse quanto à inclusão, ou não, doFundeb (Fundo de Manutenção da Educação Básica), do FCDF (Fundo Constitucional do Distrito Federal) e das despesas com ciência e tecnologia no novo regime.
“Sinaliza tanto para o mercado nacional quanto internacional que o Brasil tem compromisso com os gastos e isso é bom para valorização do real”, comenta Anderson Domingos.
Em paralelo, a inflação vem demonstrando sinal de melhora e acumula 3,94% em 12 meses. O IPCA-15, prévia da inflação de junho, apontou alta de apenas 0,04%, 0,47 ponto percentual abaixo da taxa de maio (0,51%).
O Banco Central, no entanto, prevê que a inflação volte a subir no segundo semestre, com isso, espera que 2023 feche com IPCA em 5%.
Para o economista da Favos Invest, outro fator para ficar atento é a política de swap cambial do Banco Central, ou seja, a troca de reservas em dólar por reservas em reais, reduzindo artificialmente o preço da moeda americana.
Ele alerta também que essa queda observada nos últimos meses também eve-se a uma correção de um patamar muito elevado no longo prazo, o que não significa que a moeda se manterá descontada. Nos cálculos do economista, quando a moeda bater R$ 4,60 deve ser seguida de uma forte alta.
Bolsa de Valores
Nas últimas semanas de junho, o Ibovespa, principal índice acionário do país, tem demonstrado positividade, registrando alta em grande parte dos pregões; na segunda-feira (19), o índice marcou 119.857 pontos, patamar jamais imaginado no início do ano.
O dólar seguiu esse momento positivo e baixou a marca dos R$5,00, tendo registrado R$4,77 na segunda-feira (19), com bancos e corretoras prevendo novas quedas até o mês de dezembro.
“A bolsa de valores, a taxa de câmbio e as taxas de juros futuras reagiram positivamente às boas notícias econômicas. O mercado já espera um início de corte na taxa Selic a partir de agosto ou setembro, e os múltiplos da bolsa estão bastante descontados”, diz Pedro Marins, sócio fundador da Somus Capital.
O especialista avalia ainda que caso os dados da economia brasileira continuem apresentando melhoras e as reformas avancem, especialmente a tributária e o novo arcabouço, é muito provável um aumento significativo no fluxo de investimentos estrangeiros em direção ao Brasil, elevando assim a bolsa de valores local e reduzindo a taxa de câmbio.
A recente elevação da perspectiva de investimento no Brasil, feita pela S&P Global Ratings, empresa especializada em análises de mercado, representa um sinal muito positivo, porém, segundo Marins, ainda é necessário superar alguns obstáculos.
“Ainda temos um longo caminho a percorrer até recuperarmos o Grau de Investimento, o que fornecerá ao Brasil uma chancela importante e dará maior segurança aos investidores estrangeiros para direcionar ainda mais seus investimentos para o país”, analisa.
É importante destacar que, ao contrário de outros mercados emergentes, o Brasil não se encontra em uma região de conflitos, além de ser uma democracia em processo de amadurecimento, com instituições sólidas.
Os investidores estrangeiros têm grande interesse em investir no Brasil, portanto, com a melhora do cenário interno, como o desenrolar de reformas e marcos fiscais, o fluxo de capital estrangeiro deve se manter, elevando as perspectivas de avanço financeiro.