Luciano Carneiro, é um nome que provavelmente você nunca ouviu falar. Dá nome a uma avenida próxima ao Terminal Rodoviário e ao Aeroporto de Fortaleza . Fora isso, é pouco lembrado. Cearense nascido em 1926, teve uma carreira impressionante como fotojornalista na importantíssima, na sua época, revista O Cruzeiro.
Além de grande fotógrafo e jornalista, Luciano era louco por aviação e por aventuras, incluindo algumas bem arriscadas. Possuía brevê de piloto e de paraquedista o que lhe permitia fazer imagens incríveis e impensáveis para a época. Com 16 anos entrou para o Correio do Ceará e com 23 já era uma estrela no Correio do Ceará, quando escreveu uma matéria de capa, com fotos aéreas suas, onde deu o nome de “Praia do Futuro” a uma praia distante, quase inacessível e desconhecida da população cearense.
Mas Luciano ganhou fama mundial em O Cruzeiro, especialmente por algumas matérias fotografadas por ele como quando cobriu a Revolução Cubana em 1959 acompanhando a entrada das forças lideradas por Fidel Castro em Havana e principalmente na Guerra da Coreia em 1951 onde conseguiu, olha que louco, se juntar aos paraquedistas das forças das Nações Unidas para saltar nas linhas inimigas e registrar, junto à tropa, a Operação Tomahawk.
E o que tem Brasília nisso? É que próximo do Natal de 1959, a revista O Cruzeiro pautou uma reportagem sobre o primeiro baile de debutantes da futura capital brasileira. Inicialmente a revista iria enviar outro reporter e fotógrafo cearense para vir à Brasília, Luiz Carlos Barreto, mais tarde conhecido cineasta e produtor. O problema é que não o encontraram. O que fazer? Quem mandar? Tem o Luciano, mas Luciano é metido com guerras e fotos aéreas, sem contar que não era nada acostumado a eventos sociais. Mas não tem tu, vai tu mesmo e chamaram ele.
Luciano era muito curioso para conhecer melhor Brasília e tem uma versão de que ele mesmo que propôs vir para assim conhecer os palácios, especialmente do Palácio da Alvorada, onde faria as fotos das belas moçoilas de Brasília. Assim, partiu para para Brasília em 19 de dezembro.
Feito o trabalho, Luciano correu para voltar para o Rio de Janeiro para passar o natal com a esposa grávida. Mas na escala em São Paulo soube que havia um Viscount da VASP que faria a Ponte Aérea no mesmo dia. A VASP, na época, importante companhia aérea paulista, havia recém recebido uma leva dos moderníssimos aviões Viscount, um turboélice que matava de curiosidade os amantes da aviação, como Luciano, por ser o primeiro avião comercial equipado com motores a turbina, que representava um salto tecnológico considerável na aviação comercial brasileira.
O rapaz não teve dúvida. Correu no balcão da VASP e trocou a passagem para viajar pelo avião novinho em folha. Era dia 22 de dezembro. Naquele dia, um cadete da FAB, segundo contam, pegou um Focker de treinamento para voar e impressionar sua namorada. E veio a tragédia. O pequeno avião tocou no Viscount da VASP que se aproximava do pouso no aeroporto do Galeão. A aeronave caiu sobre algumas casas de Ramos e todos as 33 pessoas à bordo morreram (43 mortos no total, com os mortos em terra), entre eles, nosso herói, Luciano Carneiro.
O desastre causou grande comoção nacional e criou uma pressão para a mudança da Escola de Aeronáutica das proximidades do aeroporto do Galeão para Pirassununga no interior de São Paulo, onde está até hoje.
Mas no meio dos destroços, as equipes de resgate conseguiram recuperar algumas malas, em uma delas, a de Luciano, estavam as duas câmeras fotográficas e rolos de filmes chamuscados. E, por incrível que pareça, alguns dos filmes puderam ser recuperados pelos técnicos de O Cruzeiro apesar da exposição à luz e calor. Na sua edição de 16 de janeiro de 1960, a revista fez uma homenagem a seu fotógrafo morto publicando algumas das fotografias do ensaio. A mais bela mostra algumas debutantes e, por causa dos espelhos, no centro, LUCIANO. Quase como o quadro “As Meninas” de Velázquez.