A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) promoveu o Dia do Agro neste domingo (10.12), durante a COP 28 realizada em Dubai, O “Dia do Agro”, destacando o desafio de conciliar segurança alimentar, energética e climática relacionados à produção sustentável no Brasil e no mundo.
O encontro aconteceu no pavilhão do setor produtivo brasileiro e reuniu especialistas nacionais e estrangeiros, representantes do governo, embaixadas, organismos internacionais, empresas, entidades do setor e produtores rurais.
O vice-presidente de Relações Internacionais da CNA, Gedeão Pereira, foi o moderador do debate e abordou o papel chave do Brasil em garantir a segurança alimentar no mundo no futuro, em um cenário em que grande parte da população mundial nas próximas décadas viverá em países importadores de alimentos. Nesse contexto, ele ressaltou que o Brasil se tornará a maior agricultura do mundo em 2035.
Pereira lembrou o crescimento da atividade agropecuária brasileira graças à tecnologia adotada nas propriedades, em que a produção aumentou muito acima da abertura de novas áreas, especialmente nas últimas décadas, reforçando o compromisso do produtor rural com a sustentabilidade. “Não há como se discutir meio ambiente sem segurança alimentar”, destacou.
Pereira lembrou, também, que a área preservada no Brasil, contabilizando propriedades do Cadastro Ambiental Rural (CAR), área militares, terras indígenas, terras da União, entre outras áreas, supera grande parte dos países da União Europeia juntos. O vice-presidente frisou, ainda, a contribuição social da agricultura brasileira, que tem contribuído para reduzir a inflação no mundo.
A produtora rural Ana Carolina Zimmermann, representante da Comissão Nacional de Novas Lideranças da CNA, falou sobre o posicionamento dos jovens da agropecuária brasileira para COP 28, abordando os desafios dos novos líderes para contribuir com soluções para as três crises: energética, climática e segurança alimentar. Neste contexto, ela defendeu maior inserção da juventude rural nas construção de políticas públicas.
Sobre esta questão, ela também falou que o documento procura informar e mostrar que produtores rurais são aliados na preservação ambiental e cumprem uma das legislações ambientais mais rigorosas do mundo, o Código Florestal. Ela também destacou que a sustentabilidade deve ser fundamentada igualmente em seus três pilares: social, ambiental e econômico.
“Precisamos cada vez mais de representatividade, diante da nossa capacidade de inovação e de dedicação ao campo, dentro de um compromisso com a sustentabilidade. Hoje vivemos o movimento inverso. Antes os jovens queriam ir para a cidade e agora nós estudamos para voltar ao campo e nosso esforço precisa ser reconhecido nos fóruns de discussão para mostrarmos o que fazemos de bom”.
Já o coordenador-geral de Mudanças Climáticas e Agropecuária Conservacionista do Ministério da Agricultura, Adriano Santhiago, afirmou que a agropecuária é parte da solução para as questões de mitigação e adaptação às alterações do clima, e falou sobre as tecnologias implantadas no campo e as políticas públicas voltadas para esta finalidade, como a agricultura de baixa emissão de carbono, por meio do programa ABC+.
Contudo, ele avaliou que as discussões não devem se limitar apenas à questão do aumento da temperatura do planeta. Em sua opinião, são necessárias ações de financiamento e apoio dos países desenvolvidos às nações em desenvolvimento.
O diretor executivo da National Farmers Federation (NFF), Tony Maher, apresentou a realidade da Austrália e reconheceu que o setor agropecuário no país pode avançar mais na questão do combate às mudanças climáticas, a partir de políticas governamentais que incentivem o produtor a adotar boas práticas.
“A agricultura é um setor importante e precisamos criar parcerias para a questão da redução das emissões”.
Mercado de carbono – No segundo painel do dia, especialistas debateram o mercado de carbono. O embaixador Roberto Azevedo, presidente da Iniciativa Internacional para o Agronegócio Brasileiro, destacou que o mercado de carbono é uma realidade mundial e não Brasil não será diferente.
“O mercado vai acontecer. A questão é quando. Até porque será uma forma de harmonizar a relação entre os países e no esforço de descarbonização. Mas é um tema complexo que exige muita conversa, muita base científica e estamos aqui conversando com peritos para dar uma direção certa para o produtor”.
Azevedo também destacou o papel do Brasil como um grande gerador de crédito, com métodos produtivos avançados. “Tudo que fizermos aqui pode gerar uma ideia, um conceito, uma inovação que pode ser aproveitada globalmente”.
O professor Carlos Eduardo Cerri, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), reconheceu que há muitos desafios para o crédito de carbono, mas afirmou que também há muitas oportunidades diante das particularidades do Brasil.
“Seria uma valorização da atividade agropecuária, que produz alimentos, fibras e energia que são parte da solução quando se trata de aquecimento global, e não o problema. Aqui podemos ousar outras formas de energia que não sejam fósseis”.
A vice-presidente de sustentabilidade e relações institucionais da Syngenta, Grazielle Parenti, disse que outras questões devem acompanhar a implantação do mercado de carbono, como a regularização fundiária. Neste contexto, ela falou do conceito ESG (Ambiental, Social e Governança) como ferramenta para esse processo.
“O G precisa funcionar para fazer o E e o S acontecerem, para os créditos de carbono deem os retornos esperados para o produtor”.
O coordenador do Observatório de Bioeconomia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Daniel Vargas, disse que o desafio prioritário é valorizar o potencial verde do Brasil e que a implantação de um mercado regulado de carbono no Brasil precisa levar em conta as virtudes do país e não implantar mecanismos fora da realidade brasileira.
“Deve-se olhar para o agro como prioridade e como um setor estratégico que gera serviços ambientais para acelerar esse processo. Temos um estoque verde dentro e fora da propriedade e não podemos perder competitividade”.
Eduardo Bastos, diretor da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), destacou que, assim como o Brasil tem potencial para produção de alimentos, poderá ter também um dos países com mais potencial de geração de crédito de carbono e atração de financiamentos para esta finalidade.
Os fundos de investimento nas cadeias produtivas agroindustriais (Fiagros) seguem em ritmo acelerado de crescimento, consolidando-se como uma alternativa promissora para o agronegócio dentro do mercado de capitais. Dados da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) mostram que, desde a criação dos Fiagros em 2021, o patrimônio desses fundos multiplicou-se quatro vezes, alcançando R$ 41,7 bilhões até agosto de 2024. Apenas neste ano, o setor registrou um aumento de 5,3%, comparado aos R$ 38 bilhões registrados em dezembro de 2023.
Os Fiagros vêm atraindo atenção por permitirem que investidores se exponham ao setor agroindustrial brasileiro, diversificando suas carteiras com potencial de retorno financeiro. Entre agosto de 2023 e agosto de 2024, o número de Fiagros aumentou 58%, chegando a 116 fundos ativos no mercado. Esse avanço reflete a popularidade crescente desses fundos, que são beneficiados por incentivos fiscais e regulamentações favoráveis, fatores que também contribuíram para o fortalecimento do setor desde sua criação.
Além dos Fiagros, outros instrumentos financeiros ligados ao agronegócio também mostram desempenho positivo. As Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs) cresceram 6,1%, totalizando R$ 487 bilhões, enquanto as Cédulas de Produto Rural (CPRs) aumentaram expressivos 33,5%, somando R$ 398 bilhões. Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) e Certificados de Direitos Creditórios do Agronegócio (CDCAs) também registraram crescimento de 14,9% e 25,8%, respectivamente.
Apesar do cenário promissor, o mercado de Fiagros enfrenta desafios, como a alta taxa de juros e os impactos de eventos climáticos, que afetam o fluxo de caixa dos produtores e elevam o risco de crédito. Outro fator observado é a queda nos dividendos, que hoje se aproximam dos valores de fundos imobiliários tradicionais, com uma diferença de apenas 0,8%, comparada aos 2,2% em 2023.