O BRICS, composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – e a partir de 2024, com novos membros – Arábia Saudita, Argentina, Egito, Emirados Árabes, Etiópia e Irã — emerge como uma inovadora forma de reorganização da governança global, refletindo a realidade do mundo contemporâneo, caracterizado por governos diversos, ideologias contrastantes e desafios econômicos singulares.
Esta coalizão não apenas desafia a hegemonia tradicional, mas também promove uma abordagem mais inclusiva e diversificada nas questões globais.
Entendemos como positiva a deliberação da cúpula de Johanesburgo acerca da ampliação do bloco com o ingresso de novos países.
A ascensão econômica do BRICS tem reverberações significativas, principalmente em relação à questão energética.
Como um bloco de economias em crescimento acelerado, o BRICS não apenas desempenha um papel crucial na demanda e oferta de energia, mas também influencia as políticas relacionadas à transição para fontes mais sustentáveis.
Sua influência na esfera energética é inegável, transformando-o em um verdadeiro “powerhouse” nesse domínio, com implicações para a segurança energética e ambiental global.
Uma das funções mais notáveis do BRICS é a sua capacidade de atuar como plataforma de diálogo e apaziguamento em situações de conflito entre países.
Exemplos notáveis incluem a facilitação do diálogo entre a Arábia Saudita e o Irã, bem como entre o Egito e a Etiópia.
Sua posição neutra e influência crescente permitem que o BRICS desempenhe um papel diplomático construtivo, abrindo espaço para a resolução pacífica de tensões internacionais.
O interesse global na estrutura do BRICS é inegável, com mais de 60 países expressando desejo de se associar ao bloco.
Esse interesse reflete um sentimento generalizado de exclusão das principais potências econômicas globais, que por vezes não abarcam a diversidade e complexidade das nações em desenvolvimento.
A abertura do BRICS para a expansão sinaliza uma mudança na dinâmica de poder global, permitindo que nações anteriormente marginalizadas participem ativamente na construção de uma nova ordem mundial.
O cenário atual também é caracterizado por uma restruturação da ordem mundial, marcada por transições desafiadoras, causada, principalmente, pela resistência dos países do G7 e dos organismos multilaterais em serem mais abertos à inclusão e voz de novos membros.
Embora tais mudanças possam ser complexas e tumultuadas, elas frequentemente representam momentos de evolução.
O BRICS, ao desafiar o status quo e propor alternativas, contribui para a remodelação das relações globais, incentivando uma distribuição mais equitativa de influência e poder.
A questão de uma moeda própria dos BRICS precisa ser refletida com cautela. O exemplo do Euro deve ser considerado, particularmente pelos erros incorridos pela União Europeia que implicaram a crise financeira de 2008. O êxito de uma moeda está em sua aceitação por parte dos demais países em que transações oriundas dos países do BRICS sejam realizadas. No entanto, a entrada de grandes produtores globais de petróleo e a consolidação chinesa como principal potência comercial permitirá a abertura do mercado petrolífero a outras moedas além do dolar norte-americano.
Em resumo, o BRICS emerge como um exemplo de reorganização da governança global, que reflete a diversidade de governos, ideologias e desafios econômicos do mundo atual. Sua influência econômica, particularmente na questão energética, e sua capacidade de atuar como mediador em conflitos internacionais destacam seu papel multifacetado. O interesse global na adesão ao bloco demonstra a necessidade de uma estrutura mais inclusiva. É um movimento positivo da mudança dos tempos.
Enquanto o mundo passa por uma restruturação da ordem global, o BRICS representa uma força de mudança e evolução, remodelando gradualmente as dinâmicas geopolíticas e econômicas em direção a um futuro mais equilibrado. Com os ajustes certos, o bloco tem tudo para se desenvolver de modo cada vez mais orgânico e influente.
Marcelo Knopfelmacher , Diretor da BRICS Strategic Solutions Ltd. no Reino Unido e pós graduado pela London School of Economics and Political Science.
Marcus Vinicius de Freitas , Professor Visitante, China Foreign Affairs University Senior Fellow, Policy Center for the New South.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, confirmou nesta quinta-feira (12) que receberá seu homólogo chinês, Xi Jinping, em Kazan, no próximo mês de outubro, por ocasião da cúpula dos Brics.
O anúncio foi feito pelo mandatário russo durante encontro com o ministro das Relações Exteriores de Pequin, Wang Yi, em São Petersburgo, segundo a agência Interfax.
De acordo com Putin, as relações entre a China e a Rússia continuam a desenvolver-se “com muito sucesso em todas as direções”, incluindo a “coordenação no cenário internacional”.
Em imagens divulgadas pela mídia russa, Wang destacou que “o presidente Xi está muito feliz em aceitar o convite”.
“Nessa ocasião os dois chefes de Estado terão novas discussões estratégicas”, acrescentou o chanceler, destacando que ambos os líderes “estabeleceram uma confiança mútua sólida e uma amizade profunda”.
O ministro chinês chegou a São Petersburgo para participar da cúpula de altos funcionários e conselheiros de segurança nacional do bloco Brics. Sua visita também foi vista como uma oportunidade para lançar as bases do encontro presencial entre os líderes dos dois países.
A reunião dos Brics está marcada para acontecer entre 22 e 24 de outubro, na cidade russa de Kazan, e será o terceiro encontro presencial de 2024 entre Xi e Putin, poucas semanas antes das eleições presidenciais dos Estados Unidos, em novembro.
Formado inicialmente por Brasil, China, Índia e Rússia em 2009, o bloco foi ampliado com a adesão da África do Sul em 2010 e este ano incluiu vários outros países emergentes, como Egito e Irã. No início de setembro, a Turquia também apresentou um pedido de adesão ao bloco.