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Artigo: Jesus, o Judeu

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Reprodução/Marc Chagall
A pintura “Ressurreição”, de Marc Chagall

Algumas semanas atrás “intelectuais” levantaram a tese de um Jesus Palestino tal qual nos anos 1940, Hitler criou a chamada igreja Alemã em cima de teólogos nazistas argumentando a origem ariana de Jesus. A fantasia e a paranoia não tem limites. Principalmente quando a serviço de ideologias esquisóides. Resolvi publicar um texto que vai constar de uma antologia a respeito de religião e psicólogia que será público em breve.

Trata-se da maior contrafração política e ideológica da história da humanidade. Final de cada Versículo proferido, de todas as passagens vividas por Jesus, Yoshua bem Yossef, transpira sua apaixonada adesão ao judaísmo, seu estranho amor ao seu povo e sua mensagem de libertação. O processo de seu deslocamento começa no desenvolvimento produzido por Pilatos, inteligente e hábil na manobra de atribuir a culpa da condenação à morte dos judeus (sic). Como essa fórmula primária que qualquer criminalista seria capaz de desmistificar tem resido aos estudos e análises mais sérias das autoridades mais categorizadas?

Em primeiro lugar, se explica pelo antissemitismo disseminado pelos cultores da nova religião, interessada em bloquear as fronteiras com sua fonte originária. Em segundo lugar, há uma natural e apaixonada resistência Judaica, indignada diante do apoderamento de seu filho, transformado, contra sua vontade, em instrumento de ódio e perseguição. Em abono dessa tese poderíamos transcrever inúmeras passagens do Novo Testamento. Inútil. Ou o leitor percebe que numa vida de 30 e poucos anos Jesus dedicou todos os seus momentos conhecidos à tarefa do estudo da Lei Judaica e dos preceitos religiosos do Judaísmo, como antes fizeram e depois milhares de rabinos e eruditos pregadores, ou escolhe a via tortuosa do sadomasoquismo anti-semita que se prende ao drama arquitetado pelos dominadores romanos nas suas últimas horas.

Na verdade, na figura de Jesus foi crucificada na época o espírito de insurreição religiosa e política de Israel, provavelmente com a cumplicidade de alguns elementos engajados com o conquistador (como acontecer). Nos dois milênios que se sucederam, os judeus têm sido crucificados pela trágica herança de terem concebido um filho mágico e dileto, de espírito universalmente aberto. Provavelmente, uma das grandes horas da história será o instante da reversão da dinâmica de Jesus – a reconciliação e o reconhecimento de sua função como judeu, o apagar os tônus anti-semita, que procura retratá-lo como estranho ao seu povo, a final trama desmentida pelo senso comum de seu papel, como Messias para os cristãos, como filho querido para os judeus.

Quem instruiu, magistralmente, a necessidade dessa revisão foi o poeta Libanês Khalil Gibran no seu diálogo entre Jesus de Nazaré e Jesus dos cristãos, que, segundo ele, ainda não tinham conseguido se conciliar. fonte histórica de Jesus, o judaísmo perdeu para o cristianismo institucionalizado de Paulo seu poder político e social que permitiu a nova religião dar o “tônus da civilização ocidental”. No entanto nas últimas décadas e destacando-se o pensamento de figuras como João XXIII, Tomas Merton, Jacques Maritain e, principalmente, o escritor protestante Harver Gallagher Cox Jr.,autor de “A cidade do homem” e “Que a serpente não decida por nós”, acentua-se um processo de judaização do pensamento cristão de algumas áreas mais esclarecidas.

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O doutor em psicologia Jacob Pinheiro Goldberg

Do lado judaico tal inclinação se adivinha na análise de Jesus, feita por Joseph Klausner. Saber-se que o judaísmo não tem propósitos de proselitismo. De outro lado o converso é visto com extraordinária acolhida. No estudo “A morte de Deus e o futuro da teologia”, Gallagher afirma que devemos rejubilarmo-nos com “não por qualquer coisa que é, mas por aquele que virá”. Dificilmente a noção judaica do Messias poderia ter uma melhor categorização do que essa. Na medida em que o cristianismo passa por mergulho introspectivo do abandono das imagens greco-romanas e penetra nos pathos e ethos de Jesus, o rabi judeu, a mansidão e o amor à vida se irão contrapor ao martírio da paranoia. Obviamente, a dialética de uma crise de consciência e revisão totalizante desse alcance não se fará suavemente, eis que vai abalar toda a teologia do sofrimento – interno e externo, expresso na mecânica da agressividade – das Cruzadas, do ódio ao prazer, na tendência abstinência, do conceito brutal de salvação de todo gênero humano e finalmente da própria concepção da estrutura religiosa como instituição.

Em nível político, essa correlação assumiu seu ponto crucial com Dietrich Bonhoffer, o pastor alemão que participou da Conspiração para matar Hitler, e cuja vida expressa na correspondência que escreveu, dentro da prisão, é o contraponto musical da agonia do “Último dos Justos”, de André Schwartz-Bart. Talvez este será o mais formidável paradoxo da história: vencido os bloqueios psicológicos, o antissemitismo terá ensejado o mea-culpa, que conduzirá a elite do pensamento filosófico Cristão para a aceitação do judaísmo – realização da comunhão mística do homem contemporâneo e o Deus vivo, cujo Messias há de vir. Porque nesse jogo, como na vida, quem perde, ganha. Não se esqueça que a cruz era um suplício romano e nunca um instrumento de Justiça Judaica. Assim Jesus foi executado pelos Romanos na missão de dominação política como agitador. A acusação aos judeu de ser assassino de Cristo foi uma lenda divulgada pela propaganda Romana, na Diáspora.

*Jacob Pinheiro Goldberg é doutor em psicologia, advogado, assistente social e escritor.

Fonte: Internacional

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