Pela primeira vez na história das participações do Brasil em Jogos Olímpicos, a delegação brasileira contará com a presença de um psiquiatra. Este é um marco significativo, em relação a quebra do preconceito e o reconhecimento da importância de se cuidar da saúde mental no esportista de alto rendimento, demonstrando maior conscientização sobre o assunto. O papel do psiquiatra inicia bem antes e é fundamental para garantir que os atletas não apenas alcancem seus objetivos físicos, mas também mantenham seu bem-estar psíquico e tenham maior rendimento.
Atletas de alto rendimento enfrentam uma pressão enorme para obter sucesso. O treinamento intenso, as competições constantes e as altas expectativas de desempenho podem afetar significativamente a saúde mental dos atletas. É uma situação crônica de pressão, de cobrança e resultados em relação a tudo que é investido. Atletas convivem sempre com a sensação de que podem perder tudo em um segundo. Se cair da barra, escorregar, perder por um detalhe mínimo, Se eles cometerem algum erro, podem vir a perder quatro anos de trabalho, oito anos de trabalho. A pressão é muito forte. Até a torcida, que é algo benéfico e legal, também contribuem para essa pressão que pode ser positiva ou negativa.
Tornou-se comum nos dias atuais vermos atletas de elite relatarem quadros como ansiedade e depressão no ambiente esportivo e fora dele. No entanto, o estigma e o preconceito relacionado às doenças mentais muitas vezes faz com que eles não falem sobre o assunto impedindo que busquem ajuda.
Outra questão que permeia o ambiente esportivo e é pouco falada são os transtornos alimentares, induzido por dietas rígidas e regradas. Temos a vigorexia, anorexia e bulimia, muito comuns no ambiente esportivo. Há também casos de outros quadros psiquiátricos como o caso do Michael Phelps, por exemplo, diagnosticado com TDAH desde a infância. Todas as pessoas com essas doenças necessitam de tratamentos específicos e muitas têm receio e se negam a fazerem o tratamento por medo de serem pegos no exame antidoping e suas carreiras serem prejudicadas.
O estigma e o preconceito relacionados às doenças mentais ainda são uma barreira no esporte. Muitos atletas podem hesitar em buscar ajuda por medo de serem vistos como fracos, incapazes, inseguros e etc. Esse estigma não apenas perpetua a vergonha, mas também pode impedir o tratamento adequado, prolongando os problemas e impactando negativamente no seu desempenho.
Importante lembrar que atletas são seres humanos e também têm vida pessoal, problemas familiares e dificuldades financeiras, fatores, tanto internos quanto externos que também podem afetar a sua saúde mental. O estresse diário, somado a uma sobrecarga nos treinamentos também pode impactar significativamente o estado mental dos atletas.
Além de tudo isso, atletas ainda precisam lidar com haters, cobranças nas mídias sociais e a falta de empatia das pessoas, que muitas vezes se alegram com as derrotas e os destratam quando eles falham. Mesmo nas poucas vitórias, elas não são aproveitadas como deveriam, limitando-se a breves momentos de fama e glória em vez de serem transformadas em investimentos que beneficiem a todos, proporcionando um cuidado melhor e melhores resultados para todos.
Apesar dos avanços e do crescente interesse em questões relacionadas ao psicológico dos atletas, o preconceito e a falta de conhecimento sobre a importância da psiquiatria ainda persistem. Muitos ainda associam a psiquiatria exclusivamente a condições de doença grave, ignorando que ela desempenha um papel importante para a prevenção de doenças e promoção da saúde.
A presença de um psiquiatra na delegação representa um passo importante para mudar essa perspectiva. Ao normalizar a presença desse profissional, contribuímos para a criação de um ambiente mais acolhedor e compreensivo, onde os atletas podem se sentir mais seguros para buscar ajuda sem receio de julgamento
É nesse momento que a psiquiatria se torna um recurso valioso. Não se trata apenas de tratar doenças mentais quando elas surgem ou estão em um estágio grave, mas de adotar uma abordagem preventiva. A psiquiatria pode ajudar a identificar sinais precoces de estresse e outros sintomas que possam levar a um quadro psiquiátrico, além de desenvolver estratégias de enfrentamento eficazes e promover o bem-estar dos atletas.
A abordagem preventiva deve começar com a promoção de uma cultura que valorize a saúde mental tanto quanto o desempenho físico. Criar programas de apoio, educar treinadores e equipes sobre os sinais que devem estar atentos de que há problemas de saúde mental e como oferecer suporte e outros recursos podem ser muito úteis. Ter médicos psiquiatras integrados à equipe esportiva pode fazer uma grande diferença nesse contexto.
Ainda há um longo caminho a percorrer para superar o estigma associado à saúde mental no contexto esportivo. O fato de ter um psiquiatra na delegação é um avanço, mas não garante a solução completa do problema. Precisamos de mais acesso não só dentro da delegação, mas também de um trabalho contínuo contra o preconceito 365 dias ao ano e oferecer oportunidades de tratamento para os atletas, que muitas vezes enfrentam a falta de patrocínio e de ajuda financeira. Alguns recebem suporte, enquanto outros ficam sem nenhuma possibilidade de tratamento, o que é muito ruim.
Em resumo, atletas de alto rendimento trazendo a saúde mental para o debate e compartilhando as suas experiências podem servir de exemplo e inspirar muitas pessoas. A saúde mental é uma parte essencial do sucesso esportivo de um atleta e deve ser tratada com a mesma seriedade que o treinamento físico. Cuidar da saúde mental, vale ouro!
Antônio Geraldo da Silva é médico formado pela Faculdade de Medicina na Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES. É psiquiatra pelo convênio HSVP/SES – HUB/UnB. É doutor pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto – Portugal e possui Pós-Doutorado em Medicina Molecular pela Faculdade de Medicina da UFMG. Entre 2018 e 2020, foi Presidente da Associação Psiquiátrica da América Latina – APAL.
Atualmente é Presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Diretor Clínico do IPAGE – Instituto de Psiquiatria Antônio Geraldo e Presidente do IGV – Instituto Gestão e Vida. Associate Editor for Public Affairs do Brazilian Journal of Psychiatry – BJP. Editor sênior da revista Debates em Psiquiatria. Review Editor da Frontiers. Acadêmico da Academia de Medicina de Brasília. Acadêmico Correspondente da Academia de Medicina de Minas Gerais. Coordenador Nacional da Campanha “Setembro Amarelo®”, da Campanha ABP/CFM Contra o Bullying e o Cyberbullying e da Campanha de Combate à Psicofobia. É autor de dezenas de livros e artigos científicos em revistas internacionais e também palestrante nacional e internacional.
Uma das propostas da Chapa 2 – “Nova OAB” para fortalecer a inclusão dentro da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Mato Grosso (OAB-MT) é a criação de uma Comissão de Inclusão e Acessibilidade. De acordo com o candidato à presidência Pedro Paulo, o projeto visa garantir que advogados e advogadas que enfrentam dificuldades por conta de alguma deficiência encontrem portas abertas e todo suporte necessário dentro da entidade.
A ideia da implantação da comissão surgiu após sugestão da advogada Franciele Rahmeier, diagnosticada com transtorno do espectro autista. A jurista, que é candidata à secretária-geral da subseção de Primavera do Leste, declarou seu apoio a Pedro Paulo. Para ele, a Seccional mato-grossense precisa estar sempre aberta a ouvir, debater e criar medidas que garantam equidade também dentro da advocacia.
“Inclusão é conscientização. É ouvir, colocar-se no lugar do outro e permitir que cada um possa contribuir da melhor forma, com as suas experiências. Essa proposta vai auxiliar outros advogados e advogadas, que enfrentam as mesmas dificuldades da Drª Franciele, e assegurar a participação nas discussões sobre o tema em diversas esferas da política. Agradeço a ela por nos abrir os olhos para essa questão”, argumenta Pedro Paulo.
A advogada recebeu o diagnóstico há pouco mais de um ano, mas relata que desde antes tem enfrentado muitas dificuldades. Segundo ela, a principal é o julgamento preconceituoso que, muitas vezes, classifica essas pessoas como incapazes. Ainda conforme Franciele, dentro da própria OAB há esses obstáculos, principalmente quando se procura amparo para o desenvolvimento tranquilo da profissão.
“A gente precisa incluir para igualar essas classes. Tem muita gente que pergunta ‘cadê a OAB?’. A OAB, infelizmente, parece que tem medo de dar a cara a tapa em relação aos direitos que são nossos. O Pedro Paulo deu atenção a essa proposta não com teor político, mas com teor de acolhimento, no sentido de propor a mudança dessa realidade que temos hoje. Estávamos esquecidos e agora estamos sendo ouvidos”, afirma Franciele Rahmeier.
A chapa liderada por Pedro Paulo tem como vice-presidente a Drª Luciana Castrequini, como secretário-geral o Drº Daniel Paulo Maia Teixeira, a secretária-adjunta Drª Adriana Cardoso Sales de Oliveira e como tesoureiro o Drº Rodolpho Augusto Souza Vasconcellos Dias. O grupo, formado ainda por conselheiros titulares e suplentes, reúne membros da Capital e também de subseções do interior.