A equipe da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa de Cuiabá chegou nesta quinta-feira (04.04), à capital com os dois investigados, presos em Mato Grosso do Sul, por encomendar o assassinato de um comerciante do Shopping Popular, crime que resultou na morte de uma segunda vítima, um funcionário do local.
Os dois presos serão apresentados nesta sexta-feira (05.04) em audiência de custódia no Fórum de Cuiabá, onde serão designadas as respectivas unidades prisionais para recolhimento de ambos.
Mãe e filho foram presos temporariamente em Campo Grande, após a investigação da DHPP identificá-los como os responsáveis em contratar o atirador, na cidade de Uberlândia (MG), para executar Gersino Rosa dos Santos, de 43 anos. J.B.S., e seu filho, W.B.S., de 31 anos, encomendaram o crime porque acreditaram que o comerciante teria envolvimento no homicídio do outro filho da mandante.
Após contratar o executor, que conheciam de Uberlândia, mãe e filho o trouxeram de carro até Cuiabá e pagaram 10 mil reais pelo crime.
Encomenda por vingança
Dias antes de ocorrer o duplo homicídio no shopping, Girlei Silva da Silva, de 31 anos, conhecido pelo apelido de ‘Maranhão’, foi morto no bairro Santa Laura, em Cuiabá. A família de Girlei atribuiu que sua morte foi encomendada por Gersino Rosa e então decidiram matar o comerciante como vingança.
Responsável pelo inquérito que apura o duplo homicídio, o delegado Nilson André Farias explica que o comerciante morto não era alvo de investigação sobre a morte de Girlei Silva e pontua que a família dele buscou fazer justiça com as próprias mãos. “Pode ser que Gersino nem tenha relação com a morte do ‘Maranhão’, que é investigada também pela DHPP”, disse.
Ele acrescentou ainda que a partir das prisões temporárias, a unidade especializada segue para a conclusão do inquérito, fechando a investigação e dando uma resposta sobre os crimes ocorridos.
Os três envolvidos no crime serão indiciados por homicídio duplamente qualificado. O delegado Olímpio da Cunha Fernandes Jr. pontuou que ao usar uma arma com munição rápida e transfixante, o executor assumiu o risco de fazer outras vítimas, como aconteceu, considerando que estava em um local com aglomeração de pessoas e o disparo feito contra o comerciante acabou atingindo a vítima Cleyton de Oliveira de Souza Paulino de 27 anos.
Armas apreendidas
Os dois investigados foram localizados em uma residência na cidade de Campo Grande. Na casa onde foram presos, a equipe da DHPP Cuiabá e da Gerência de Operações Especiais, com apoio do Garras da Polícia Civil sul-matogrossense, localizaram quatro armas de fogo, uma delas, possivelmente, a pistola usada no duplo homicídio.
Foram apreendidos com os investigados os dois revólveres de calibre 38, a pistola 9mm e uma quarta arma, em formato de uma caneta, também letal e de calibre 22. Todo o material passará por perícia, inclusive, de confronto balístico.
A edição 2024 dos “21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher” chegou à Sede das Promotorias de Justiça da Capital promovendo a conscientização sobre os diferentes tipos de agressão contra meninas e mulheres por meio da 1ª Mostra Fotográfica das Vítimas de Feminicídio em Cuiabá. Com apoio do Ministério Público, a exposição itinerante da Prefeitura Municipal de Cuiabá é realizada pela Secretaria Municipal da Mulher e ficará em cartaz no local até 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos.
Dos 11 réus autores dos feminicídios cometidos contra as vítimas retratadas na exposição fotográfica, cinco já foram submetidos a julgamento. Somadas, as penas aplicadas totalizam 107 anos de prisão. Entre os seis réus que ainda não foram julgados, somente Gilson Castelan de Souza, autor do feminicídio cometido contra Silbene Duroure da Guia, está foragido.
A mãe de uma das vítimas, Antônia Maria da Guia, que é avó de quatro netos e bisavó de uma menina de 9 anos, participou da solenidade de abertura da exposição fotográfica realizada nesta quinta-feira, 21 de novembro. Emocionada, a auxiliar judiciária clamou por justiça e lembrou do relacionamento conturbado da filha. “Foram cinco anos de relacionamento entre idas e vindas. Ela esperava que ele mudasse, mas isso não aconteceu. Então eu peço para as mulheres que, em qualquer sinal de violência, denunciem, busquem ajuda, não fiquem caladas. Precisamos parar com essa tragédia. Nenhuma mulher merece morrer”, disse.
De acordo com a procuradora de Justiça Elisamara Sigles Vodonós Portela, o estado de Mato Grosso registrou, em 2024, a morte de 40 mulheres, e cerca de 70 crianças entraram na estatística de órfãos do feminicídio. “Esta exposição é para apresentar quem são essas vítimas, quem são essas mulheres, mães, avós, filhas e o resultado do que aconteceu com esses assassinos. O Ministério Público tem se empenhado para a completa aplicação da Lei Maria da Penha. Hoje, com a alteração significativa no Código Penal, a punição mais severa na legislação brasileira é para o crime de feminicídio, e nós esperamos que isso possa causar impacto na redução desses números”.
A primeira-dama de Cuiabá, Márcia Pinheiro, reforçou a importância da visibilidade ao tema, destacando que a prevenção começa com debate, informação e ações que promovam segurança, justiça e igualdade. “Infelizmente, as marcas do feminicídio continuam a assombrar nossa sociedade. Vidas preciosas foram interrompidas pela brutalidade e pela misoginia. Quanto mais falamos, mais aprendemos, menos tememos e mais avançamos no fortalecimento da rede de enfrentamento à violência”, disse.
Para a secretária-adjunta da Mulher de Cuiabá, Elis Prates, ações de conscientização são essenciais: “É um momento de fortalecimento na luta pelo fim da violência contra a mulher, porque só assim conseguimos mudar essa realidade por uma sociedade mais justa, mais igualitária, para que todas possam fazer uso dos seus direitos como cidadãs brasileiras”, pontuou.