O ataque durante a ajuda humanitária na Faixa de Gaza na madrugada desta quinta-feira (29) foi um marco importante na escalada do conflito entre Israel e Hamas.
O Ministério de Saúde do enclave palestino afirma que 112 pessoas morreram durante o ataque. O número de feridos varia de 280 a 750 pessoas, segundo diferentes estimativas.
De acordo com autoridades palestinas, as forças israelenses teriam disparado de maneira indiscriminada — usando armas de fogo, tanques e drones — contra a população que, faminta, se aglomerava em torno dos caminhões de suprimentos.
Israel chegou a contestar, em um primeiro momento, os relatos das autoridades do enclave, argumentando que muitos morreram pisoteados ou atropelados nas aglomerações. Entretanto, o porta-voz Daniel Hagari chegou a afirmar que soldados teriam feito “disparos de aviso” contra uma multidão porque teriam se sentido ameaçados.
“[Os soldados dispararam] apenas em face do perigo, quando a multidão se moveu de uma forma que os pôs em risco”, afirmou. “Apesar das acusações, não disparamos contra aqueles que buscavam ajuda humanitária (…) nem no comboio, por terra ou ar.”
O que aconteceu?
Durante a madrugada de quinta-feira (29), por volta das 4h30, um comboio de 30 caminhões atravessavam uma rotatória na rua al-Rasheed, no bairro de Sheikh Ajleen, no oeste da Cidade de Gaza, onde centenas de palestinos aguardavam a ajuda.
Segundo Hagari, o comboio foi enviado por países da região, incluindo Catar, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, e era escoltado pelas forças israelenses.
Quando os caminhões se aproximaram, milhares de palestinos correram até eles. Civis cercaram os caminhões de ajuda recém-chegados na esperança de conseguir comida, e logo começaram os primeiros disparos, conforme o relato de algumas testemunhas à agência AFP.
De acordo com relatos, os caminhões tentaram escapar da área e, com isso, atropelaram acidentalmente mais civis e causando mais mortes.
A maioria das vítimas morreu atropelada pelos caminhões que tentavam escapar dos disparos, de acordo com o jornalista local de Gaza, Khader Al Za’anoun, que estava no local e testemunhou o ocorrido.
Segundo Al Za’anoun, o caos e a confusão que levaram aos atropelamentos só começaram quando os soldados israelenses abriram fogo. “A maioria das pessoas mortas foi atropelada pelos caminhões de ajuda durante o caos e enquanto tentavam escapar dos tiros israelenses”, disse o jornalista.
Versão de Israel
No mesmo dia do conflito, as Forças Armadas de Israel publicaram um comunicado atribindo as mortes das vítimas ao tumulto que cercou os caminhões de ajuda humanitária.
De forma anônima, militares israelenses afirmaram à agência de notícias Reuters, à rede CNN Internacional e ao jornal “The New York Times” que os disparos se deram pelo sentimento de ‘ameaça’ em relação à multidão.
No fim da noite, no entanto, o porta-voz do Exército, Daniel Hagari, confirmou “disparos” por parte dos soldados, mas negou que os tiros tenham sido um ataque à população.
Hagari alegou, em pronunciamento, que os soldados “cautelosamente tentaram dispersar a multidão com alguns tiros de advertência feitos para cima” quando notaram que alguns civis “começaram a empurrar violentamente e pisotear outras pessoas até a morte, saqueando os itens de ajuda humanitária”
Ele argumentou que os tanques ao redor dos caminhões eram usados pelas Forças para fazer a proteção dos suprimentos.
25% da população em Gaza está a um passo da fome
Nesta terça-feira (27), o diretor-coordenador do Gabinete da Organização das Nações Unidas (ONU) para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), Ramesh Rajasingham, afirmou que ao menos 576 mil pessoas na Faixa de Gaza — um quarto da população — estão a um passo da fome.
Ramesh afirmou, durante reunião do Conselho de Segurança da ONU, que a organização e grupos de auxílio humanitário têm enfrentado “enormes obstáculos apenas para levar um mínimo de suprimentos para Gaza”.
Ele adicionou que a fome generalizada pode ser “quase inevitável” se a comunidade internacional não se comprometer em prestar auxílio e se as Forças Israelenses não pararem de impedir a chegada das caravanas de ajuda na região.
“Muito pouco será possível enquanto as hostilidades continuarem e enquanto houver risco que elas se espalhem em áreas superlotadas no sul de Gaza. Nós, portanto, reiteramos nosso apelo por um cessar-fogo”, disse Rajasingham.
Ele afirmou ao Conselho que, na região norte de Gaza, uma em cada seis crianças menores de dois anos sofre de desnutrição severa e definhamento. Além disso, todos os 2,3 milhões de refugiados dependem de auxílio alimentar “lamentavelmente inadequado” para sobreviver.
O diretor-geral adjunto da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), Maurizio Martina, alertou que 97% da água em Gaza está inapta para o consumo, o que colabora diretamente para a destruição da infraestrutura de produção, processamento e distribuição de alimentos.
EUA querem respostas de Israel sobre mortos em entrega de comida
Na quinta-feira (29), um porta-voz do governo americano afirmou que os Estados Unidos querem “respostas” de Israel após o ataque.
“Estamos em contato com o governo israelense desde esta manhã cedo e entendemos que uma investigação está sendo realizada. Vamos acompanhar de perto esta investigação e pressionar para obter respostas”, disse a jornalistas o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller.
“Buscamos de forma urgente informações suplementares sobre o que aconteceu exatamente”, acrescentou. Ele aproveitou para prestar condolências às famílias que perderam membros no episódio.
Miller insistiu que Israel autorize “tantos pontos de acesso quanto possível, e permitir uma distribuição segura e com garantias dessa ajuda em toda a Faixa de Gaza”.
O porta-voz afirmou que as circunstâncias das mortes provam que a situação é “incrivelmente desesperadora” em Gaza, onde a ONU alertou para os riscos de fome. Na terça (27), o diretor-coordenador do Gabinete da Organização das Nações Unidas (ONU) para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), Ramesh Rajasingham, afirmou que ao menos 576 mil pessoas na Faixa de Gaza — um quarto da população — estão a um passo da fome .
Itamaraty repudia ‘massacre’ de palestinos famintos em Gaza e culpa Netanyahu
O Ministério das Relações Exteriores (MRE) do Brasil repudiou o ataque durante a ajuda humanitária em Gaza. Em nota divulgada nesta sexta (1º), o Itamaraty afirma que “a humanidade está falhando com os civis de Gaza. E é hora de evitar novos massacres”.
De acordo com a nota do MRE, “aglomerações em torno dos caminhões que transportavam a ajuda humanitária demonstram a situação desesperadora a que está submetida a população civil da Faixa de Gaza”.
“Trata-se de uma situação intolerável, que vai muito além da necessária apuração de responsabilidades pelos mortos e feridos de ontem”, afirma o comunicado.
“O governo Netanyahu volta a mostrar, por ações e declarações, que a ação militar em Gaza não tem qualquer limite ético ou legal. E cabe à comunidade internacional dar um basta para, somente assim, evitar novas atrocidades. A cada dia de hesitação, mais inocentes morrerão”, disse o Itamaraty.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, confirmou nesta quinta-feira (12) que receberá seu homólogo chinês, Xi Jinping, em Kazan, no próximo mês de outubro, por ocasião da cúpula dos Brics.
O anúncio foi feito pelo mandatário russo durante encontro com o ministro das Relações Exteriores de Pequin, Wang Yi, em São Petersburgo, segundo a agência Interfax.
De acordo com Putin, as relações entre a China e a Rússia continuam a desenvolver-se “com muito sucesso em todas as direções”, incluindo a “coordenação no cenário internacional”.
Em imagens divulgadas pela mídia russa, Wang destacou que “o presidente Xi está muito feliz em aceitar o convite”.
“Nessa ocasião os dois chefes de Estado terão novas discussões estratégicas”, acrescentou o chanceler, destacando que ambos os líderes “estabeleceram uma confiança mútua sólida e uma amizade profunda”.
O ministro chinês chegou a São Petersburgo para participar da cúpula de altos funcionários e conselheiros de segurança nacional do bloco Brics. Sua visita também foi vista como uma oportunidade para lançar as bases do encontro presencial entre os líderes dos dois países.
A reunião dos Brics está marcada para acontecer entre 22 e 24 de outubro, na cidade russa de Kazan, e será o terceiro encontro presencial de 2024 entre Xi e Putin, poucas semanas antes das eleições presidenciais dos Estados Unidos, em novembro.
Formado inicialmente por Brasil, China, Índia e Rússia em 2009, o bloco foi ampliado com a adesão da África do Sul em 2010 e este ano incluiu vários outros países emergentes, como Egito e Irã. No início de setembro, a Turquia também apresentou um pedido de adesão ao bloco.