Neste domingo (3), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chega a Berlim, na Alemanha, onde deve assinar mais de 20 acordos bilaterais. O país é rota da 15ª viagem do presidente em seu primeiro ano do novo mandato.
Desde o início do ano, o presidente já visitou 24 países e, quando terminar sua agenda na Alemanha, terá ficado 62 dias fora do Brasil em compromissos internacionais, tempo em que o país ficou sob o comando do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB). O número já gera críticas internas, com 55% da população considerando a agenda internacional de Lula excessiva, de acordo com pesquisa da Genial/Quaest.
O número soa grande, sobretudo se for comparado com o governo anterior. Em seu primeiro ano de mandato, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) passou 28 dias fora em um total de 13 viagens, de acordo com levantamento feito pelo portal iG com base em dados da Biblioteca da Presidência da República. O levantamento considerou como mais de uma viagem quando um presidente visitou mais de um país em uma mesma saída internacional.
Mojana Vargas Correia da Silva, professora de Relações Internacionais na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), afirma que o “governo Bolsonaro não é um bom parâmetro de comparação”.
“O presidente Bolsonaro era um ator político muito diferente em relação aos atores políticos que estiveram na presidência brasileira desde a redemocratização, incluindo o Collor de Melo. Ele tinha um perfil muito diferente e que não tinha nem gosto, nem habilidade, nem formação para diplomacia”, analisa.
“Quando a gente pega esses dados isoladamente, parece bastante coisa, ou parece algo excessivo. Quando a gente compara isso com o governo Bolsonaro, parece ainda mais excessivo porque o presidente Bolsonaro estabeleceu voluntariamente uma postura de baixo perfil no envolvimento da sua política externa, e de baixo o perfil para a política externa brasileira também como um todo. Era quase uma situação de isolamento”, completa.
Parte das viagens de Lula, portanto, se justifica por essa espécie de demanda reprimida deixada por Bolsonaro. Comparando com outros ex-presidentes, Lula demonstra um perfil similar ao de Fernando Henrique Cardoso. No primeiro ano de seu primeiro mandato, FHC passou 62 dias em 18 viagens internacionais. Já Dilma Rousseff passou 42 dias fora em 16 viagens.
Lula também se aproxima dos seus dois primeiros mandatos: em 2003, foram 67 dias fora; em 2007, 64. Desde Fernando Collor de Mello, que ficou 37 dias em viagens internacionais em 1990, Bolsonaro só viajou menos no primeiro ano de mandato do que Michel Temer, que viajou por 21 dias em 2017 (a base de dados não traz informações sobre viagens realizadas em 2016), e Itamar Franco, que viajou por 22 dias em 1993.
Lula conversa com o mundo
Mojana explica que inserir a figura do presidente em negociações internacionais que poderiam ser feitas por ministros ou diplomatas não é apenas uma característica de Lula, mas sim da estratégia brasileira desenvolvida ao longo dos anos.
“A diplomacia presidencial funciona como um dinamizador da atuação brasileira, com o objetivo de acelerar que os objetivos estabelecidos para essa política sejam atingidos. No caso da política externa brasileira atual, um componente importante é gerar oportunidades econômicas que auxiliem na dinamização econômica e que venham a produzir num longo prazo maior desenvolvimento, maior autonomia econômica para o país. Do ponto de vista político, essa atuação também visa estabelecer um espaço de maior autonomia e de maior influência política para o país no cenário internacional”, afirma.
Apesar de ser uma estratégia independente do presidente, Lula tem, por si só, força e bagagem que trazem vantagem internacional ao Brasil, analisa a professora. “Ele é um ator político que dispõe de um grande capital político e simbólico. Não apenas ele é um ator político que tem a disposição de estabelecer diálogo, mas é um ator político que também consegue ser ouvido por outros atores políticos. Ele é um interlocutor”, avalia.
Além dessa temática, o presidente também tem tentado exercer mais influência no Conselho de Segurança da ONU e nas negociações relacionadas à guerra no Oriente Médio. Outros pontos de ação do presidente são a expansão dos Brics e o acordo entre Mercosul e União Europeia. Nesta semana, Lula também assumiu a presidência do G20.
Mojana afirma que há dois lados na importância de garantir que o Brasil se torne mais influente internacionalmente: garantir que as pautas nacionais sejam ouvidas pela comunidade internacional; e conseguir se blindar de pressões externas, sobretudo econômicas.
“Tornar um país menos vulnerável à pressão a pressão externa é um ganho para a população, porque isso significa que o governo, no seu papel de ator político interno, vai ser capaz de adotar políticas mais adequadas aos interesses, por exemplo, do setor produtivo brasileiro, sem que isso esbarre em pressões econômicas internacionais”, explica a professora.
“Esse é um objetivo da agenda de política externa que não é um objetivo exclusivo do presidente Lula. Ampliar o espaço de influência do Brasil é um objetivo da política externa brasileira que está inserido na nossa estratégia de ação desde os anos 1970, ou seja, desde o governo dos militares”, completa.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, confirmou nesta quinta-feira (12) que receberá seu homólogo chinês, Xi Jinping, em Kazan, no próximo mês de outubro, por ocasião da cúpula dos Brics.
O anúncio foi feito pelo mandatário russo durante encontro com o ministro das Relações Exteriores de Pequin, Wang Yi, em São Petersburgo, segundo a agência Interfax.
De acordo com Putin, as relações entre a China e a Rússia continuam a desenvolver-se “com muito sucesso em todas as direções”, incluindo a “coordenação no cenário internacional”.
Em imagens divulgadas pela mídia russa, Wang destacou que “o presidente Xi está muito feliz em aceitar o convite”.
“Nessa ocasião os dois chefes de Estado terão novas discussões estratégicas”, acrescentou o chanceler, destacando que ambos os líderes “estabeleceram uma confiança mútua sólida e uma amizade profunda”.
O ministro chinês chegou a São Petersburgo para participar da cúpula de altos funcionários e conselheiros de segurança nacional do bloco Brics. Sua visita também foi vista como uma oportunidade para lançar as bases do encontro presencial entre os líderes dos dois países.
A reunião dos Brics está marcada para acontecer entre 22 e 24 de outubro, na cidade russa de Kazan, e será o terceiro encontro presencial de 2024 entre Xi e Putin, poucas semanas antes das eleições presidenciais dos Estados Unidos, em novembro.
Formado inicialmente por Brasil, China, Índia e Rússia em 2009, o bloco foi ampliado com a adesão da África do Sul em 2010 e este ano incluiu vários outros países emergentes, como Egito e Irã. No início de setembro, a Turquia também apresentou um pedido de adesão ao bloco.