A Organização das Associações de Produtores de Cana-de-Açúcar do Brasil (Orplana) apresentou estudo que mostra que os produtores de cana estão enfrentando perdas substanciais nos custos de produção. Mas a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) discorda.
A produção de cana-de-açúcar na safra 2023/24 deverá crescer em 4,4% em relação ao ciclo 2022/23, sendo estimada em 637,1 milhões de toneladas. O incremento é influenciado tanto pelo melhor rendimento das lavouras como pela maior área destinada ao cultivo da cultura, segundo a Conab. A previsão é de que sejam destiandos 8,4 milhões de hectares de cana para a colheita, com um rendimento médio de 75.751 quilos por hectare.
Ainda assim, José Guilherme Nogueira, diretor da Orplana, diz os produtores de cana estão encerrando a safra no vermelho, com um prejuízo médio de R$ 17,3 por tonelada. “Isso se traduz em um prejuízo total de mais de R$ 1 bilhão, considerando as 60 milhões de toneladas de cana na área de atuação da ORPLANA. É evidente que os produtores estão enfrentando dificuldades para financiar suas operações”, acrescenta Nogueira.
Segundo a entidade, 41% dos contratos estão baseados no modelo Consecana puro, que não oferece nenhum tipo de bonificação. Nogueira enfatiza que, embora o Consecana alegue que a maioria dos produtores recebe incentivos das usinas, o estudo revela o oposto. A Orplana está, portanto, buscando alternativas de remuneração para os produtores, incluindo a necessidade de revisar o modelo Consecana para reequilibrar a defasagem na remuneração atual do sistema.
“Essa revisão, prevista em estatuto, deveria ter ocorrido no início deste ano, conforme o regulamento do próprio Consecana, que estipula uma revisão a cada cinco anos, sendo a última realizada em 2018”, explica Nogueira. Ele acrescenta que a Orplana observa com grande preocupação esse cenário, destacando o desequilíbrio entre os diferentes elos da cadeia. Além disso, ele menciona que as usinas têm recebido 100% dos CBIOs (Créditos de Descarbonização) e repassado apenas 50% aos produtores, juntamente com a falta de distribuição do valor dos créditos outorgados do ICM (Imposto sobre Circulação de Mercadorias).
Nogueira enfatiza que não é natural nem saudável para o setor que, em seu melhor momento, um elo da cadeia tenha custos elevados e baixa rentabilidade. Ele ressalta a urgência na revisão do Consecana e destaca que, caso isso não ocorra, a única alternativa administrativa dos produtores é buscar o Conselho Administrativo de Defesa Econômica.
Conab – De acordo com o levantamento da Conab, a fabricação de açúcar deverá chegar a 38,77 milhões de toneladas, sendo a segunda maior já registrada na série histórica, perdendo apenas para a temporada de 2020/21 quando foi estimada em 41,25 milhões de toneladas. Além da maior colheita esperada para a matéria-prima na atual safra, o mercado favorável ao adoçante influencia na maior destinação da cana.
Ainda assim, a produção do etanol também deverá crescer 5,9% quando comparado com o ciclo anterior, podendo chegar a 33,17 bilhões de litros. Desse total, 14,26 bilhões de litros serão de etanol anidro e 18,91 bilhões de litros de etanol hidratado. A elevação é impulsionada, principalmente, pela fabricação do biocombustível produzido a partir do milho estimada em 5,64 bilhões de litros – alta de 42%. Já o etanol a partir da cana deve registrar um leve aumento de 0,6%, estimado em 27,53 bilhões de litros.
Contrariando a Orplana, a Conab diz que há uma perspectiva otimista de novos ganhos com as exportações dos produtos derivados da cana na safra 2023/24. Essas boas perspectivas não estão relacionadas apenas com a estimativa de aumento da produção da cultura. Para o açúcar, as cotações no mercado externo registram uma alta de 5% na comparação com o ciclo anterior, e em movimento de reajustes positivos desde meados de 2020, cenário influenciado pela oferta global restrita. Outro fator importante, segundo a Conab, e que impacta nos preços tanto do açúcar quanto do etanol é o comportamento das cotações do petróleo, influenciadas pela guerra entre Rússia e Ucrânia.
Fonte: Pensar Agro