Foi identificada a primeira ocorrência de resistência ao herbicida glifosato no Brasil, afetando a lavoura de soja. A resistência foi constatada no município de Juranda, no Paraná, por técnicos da Coamo Agroindustrial Cooperativa, que enfrentaram dificuldades no controle da planta daninha conhecida como picão-preto (Bidens subalternans).
Mesmo após aplicações sequenciais de glifosato, nas doses recomendadas e de acordo com as orientações dos rótulos e bulas, o herbicida não conseguiu controlar efetivamente as plantas de picão-preto na lavoura de soja. O pesquisador da Embrapa, Fernando Adegas, relata que essa resistência se tornou um desafio preocupante para os agricultores.
Para avaliar e comprovar a resistência do picão-preto ao glifosato, uma equipe de técnicos da cooperativa e pesquisadores da Embrapa iniciou estudos em condições controladas. Eles coletaram plantas sobreviventes na área afetada e analisaram amostras de sementes e plantas de populações de picão-preto de outras propriedades, assistidas pela cooperativa Lar, que também apresentavam suspeita de resistência ao herbicida.
Paralelamente aos estudos de resistência, foram conduzidos trabalhos de manejo dessa população de plantas daninhas, tanto em ambientes controlados quanto no campo. O objetivo é entender e enfrentar esse desafio crescente de resistência ao glifosato.
O registro dessa resistência é um marco importante, visto que em 2018, no Paraguai, foi identificado o primeiro caso de resistência do picão-preto ao glifosato no mundo. A Embrapa e as cooperativas Coamo e Lar estão agora desenvolvendo ações de monitoramento, manejo, mitigação e contenção dessa população resistente.
Além disso, estudos estão sendo realizados em colaboração com a Universidade Estadual de Maringá (UEM) e a Pennsylvania State University (PSU) dos Estados Unidos, para determinar o mecanismo de resistência ao glifosato e a possível resistência a outros herbicidas.
Esse caso destaca a crescente preocupação em relação às plantas daninhas resistentes ao glifosato no Brasil, um problema que vem se agravando devido ao uso contínuo do mesmo princípio ativo ao longo do tempo. Atualmente, o custo de produção em lavouras com plantas daninhas resistentes pode aumentar significativamente, resultando em maiores gastos com herbicidas e perda de produtividade.
O pesquisador Adegas destaca a importância de métodos preventivos, como a aquisição de sementes livres de infestantes, a limpeza de máquinas e equipamentos, o controle mecânico e químico, métodos culturais e a rotação de culturas. A resistência é uma adaptação natural das plantas daninhas devido ao uso repetitivo de herbicidas, tornando essas medidas cruciais para enfrentar esse desafio em evolução.
Esse estudo segue protocolos rigorosos para relatar casos de resistência de plantas daninhas a herbicidas e é uma colaboração entre várias instituições no Brasil e nos Estados Unidos.
Fonte: Pensar Agro