O Oriente Médio corre o risco cada vez maior de viver um conflito generalizado após o assassinato de um dos líderes do grupo palestino Hamas, Ismail Haniyeh, em um ataque em solo iraniano na madrugada de quarta-feira (31). O ataque foi atribuído a Israel, que não se manifestou.
A morte de Haniyeh ocorreu horas após a de um comandante do grupo Hezbollah, em Beirute, no Líbano, durante uma ofensiva israelense em resposta ao ataque que vitimou 12 pessoas nas Colinas de Golã, território ocupado por Israel.
O risco de uma provável guerra generalizada aumentou ainda mais nesta quinta-feira (1º), após as autoridades israelenses confirmarem a da morte do chefe militar do Hamas, Mohammed Deif, em um ataque aéreo na Faixa de Gaza em julho.
Tanto o Irã e o Hamas juraram vingança a Israel. O Hezbollah, aliado do grupo palestino, também prometeu retaliação.
Entenda a escalada dessa tensão e seus prováveis desfechos.
Os ataques
No sábado (27), um ataque com foguetes contra um campo de futebol na vila de Majdal Shams, nas Colinas de Golã, área ocupada por Israel, deixou 12 mortos e 13 feridos, segundo informações do governo israelense, que atribuiu o ocorrido ao grupo Hezbollah. Entretanto, o diretor de comunicação do grupo negou qualquer relação com o incidente.
Ainda segundo o governo israelense, este foi o pior ataque contra Israel ou áreas ocupadas por Israel desde a ação do Hamas em 7 de outubro, que deixou 1.200 mortos e fez mais de 250 reféns.
Em resposta ao bombardeio em Golã, Israel realizou um ataque em Beirute, capital do Líbano, na terça-feira (30). Entre os mortos, estava Fuad Shukr, um comandante militar sênior do Hezbollah. Ainda segundo o governo libanês, ao menos outras cinco pessoas morreram – entre elas, duas crianças.
Mesmo com o diretor de comunicação negando a autoria do ataque, Israel continua a atribuir o ataque em Golã ao Hezbollah. Como o grupo é aliado do Hamas desde o início da guerra em Gaza, o conflito deste fim de semana uma segunda frente de batalha – agora na fronteira entre Israel e Líbano.
Morte de líder do Hamas
Horas após o ataque em Beirute, uma das principais lideranças do Hamas, Ismail Haniyeh, considerado o chefe político do grupo, foi morto no Teerã. Ele havia ido para lá para acompanhar a posse do novo presidente iraniano.
O Hamas culpou Israel, que não confirmou oficialmente sua participação no ato. No entanto, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu fez um pronunciamento televisivo nesta quarta-feira (31), em que não citou a morte de Haniyeh, mas afirmou que Israel deu “golpes esmagadores” no Hamas.
“Há ameaças vindas de todas as direções. Estamos preparados para qualquer cenário e permaneceremos unidos e determinados contra qualquer ameaça”, afirmou Netanyahu.
Os ataques a lideranças do Hamas se inserem na ofensiva israelense após os ataques de 7 de outubro. A resposta de Israel tem sido uma operação militar massiva na Faixa de Gaza, território palestino controlado pelo Hamas. Até o momento, estima-se que quase 40 mil pessoas foram mortas pelas Forças de Israel, segundo o Ministério da Saúde administrado pelo Hamas.
Nesta quinta-feira, um cortejo fúnebre foi organizado nas ruas de Teerã com milhares de pessoas. O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, liderou as orações.
Ismail Haniyeh Reprodução: governo da Rússia
Ismail Haniyeh Reprodução
Ismail Haniyeh Reprodução
Ismail Haniyeh Reprodução
Ismail Haniyeh Reprodução
Novas mortes
Ainda na quinta, Israel admitiu a autorida de uma nova morte, que até agora não havia sido confirmada – a do chefe militar do Hamas, Mohammed Deif. Segundo as autoridades israelenses, Deif foi um dos idealizadores do ataque de 7 de outubro e foi morto em um bombardeio aéreo no dia 13 de julho.
O Hamas ainda não confirmou a morte. Na época, o Ministério de Saúde, comandado pelo Hamas em Gaza, afirmou que um ataque aéreo matou mais de 90 pessoas, mas negou que Deif estivesse entre os mortos.
Dessa forma, três líderes importantes de organizações fundamentalistas foram mortos em menos de um ano. Do Hamas, morreram o chefe militar Mohammed Deif e o chefe político Ismail Haniyeh. Já o Hezbollah perdeu o conselheiro militar Fuad Shukr.
Ameaças
A morte de Ismail Haniyeh estremeceu o Hamas, que atribui o ataque a Israel. Representantes do grupo militar classificaram o ocorrido como um “ato covarde” e que “não ficará sem resposta”.
As Brigadas Al-Qassam, conhecidas como o braço-armado do Hamas, afirmaram que a morte de Haniyeh levará a batalha com Israel a novas dimensões.
O Irã também se manifestou – o presidente Masoud Pezeshkian disse que Israel se arrependerá da morte “covarde” de Haniyeh.
O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, disse que vingar a morte do chefe político do Hamas é um “dever de Teerã” e que Israel, por não assumir o ataque, cria condições para uma “punição severa”.
Por sua vez, o primeiro-ministro do Líbano, Najib Mikati, chamou o ataque em seu território contra Fuad Shukr de “ato criminoso”.
Há chances de um alastramento da guerra?
As chances que o Hezbollah responda aos ataques é cada vez maior, com o apoio do Irã e do Hamas. Ao longo da história, esse grupo já respondeu com hostilidade a diversos ataques.
À BBC, o professor da Universidade GeorgeTown Nader Hashemi avaliou que Irã e o Hezbollah não tinham interesse de ampliar o conflito em Gaza, mas depois das mortes mais recentes, têm “todos os incentivos para tentar escalar este conflito”.
Além disso, várias autoridades já se pronunciaram sobre a questão. A Turquia resumiu a resposta da maior parte dos países na região em um comunicado, em que afirmou que “foi revelado mais uma vez que o governo de Netanyahu não tem intenção de alcançar a paz”.
Por outro lado, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, tem alertado sobre uma “escalada perigosa” de violência na região.
De acordo com informações do jornal Financial Times, diplomatas da União Europeia e dos Estados Unidos têm buscado interlocutores em todo o Oriente Médio para evitar um conflito expandido.
Paz cada vez mais distante
Há ainda um consenso de que a tensão recente pode complicar ainda mais as negociações de paz entre Israel e o Hamas, que deve entrar em um processo para substituir seus dois líderes em breve, o que poderia suspender as negociações de cessar-fogo por tempo indeterminado.
Declarações de países árabes reforçam essa preocupação. O Catar, que é um dos mediadores do conflito, indicou que a morte de Haniyeh pode impactar essas conversas.
“O assassinato político e o contínuo ataque a civis em Gaza enquanto as conversas continuam nos levam a perguntar: como pode a mediação ter sucesso quando uma das partes assassina o negociador do outro lado?”, afirmou o primeiro-ministro do Catar, Mohammed bin Abdul Rahman Al Thani.
“A paz precisa de parceiros sérios e de uma postura global contra o desrespeito pela vida humana.”
O Egito afirmou que o ataque demonstra falta de vontade política de Israel para a paz, e o Iraque chamou o ataque de uma “grave violação” que pode desestabilizar a região.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, confirmou nesta quinta-feira (12) que receberá seu homólogo chinês, Xi Jinping, em Kazan, no próximo mês de outubro, por ocasião da cúpula dos Brics.
O anúncio foi feito pelo mandatário russo durante encontro com o ministro das Relações Exteriores de Pequin, Wang Yi, em São Petersburgo, segundo a agência Interfax.
De acordo com Putin, as relações entre a China e a Rússia continuam a desenvolver-se “com muito sucesso em todas as direções”, incluindo a “coordenação no cenário internacional”.
Em imagens divulgadas pela mídia russa, Wang destacou que “o presidente Xi está muito feliz em aceitar o convite”.
“Nessa ocasião os dois chefes de Estado terão novas discussões estratégicas”, acrescentou o chanceler, destacando que ambos os líderes “estabeleceram uma confiança mútua sólida e uma amizade profunda”.
O ministro chinês chegou a São Petersburgo para participar da cúpula de altos funcionários e conselheiros de segurança nacional do bloco Brics. Sua visita também foi vista como uma oportunidade para lançar as bases do encontro presencial entre os líderes dos dois países.
A reunião dos Brics está marcada para acontecer entre 22 e 24 de outubro, na cidade russa de Kazan, e será o terceiro encontro presencial de 2024 entre Xi e Putin, poucas semanas antes das eleições presidenciais dos Estados Unidos, em novembro.
Formado inicialmente por Brasil, China, Índia e Rússia em 2009, o bloco foi ampliado com a adesão da África do Sul em 2010 e este ano incluiu vários outros países emergentes, como Egito e Irã. No início de setembro, a Turquia também apresentou um pedido de adesão ao bloco.