Indiciado na investigação da Operação La Catedral, da Delegacia Especializada de Roubos e Furtos de Primavera do Leste, o criminoso condenado Janderson Lopes usou o dinheiro obtido com o tráfico de drogas para constituir um considerável patrimônio, com uma transportadora, loja de materiais de construção, fazenda, imóveis e veículos dos mais variados tipos. O inquérito policial concluído na semana passada identificou 58 veículos, entre caminhões baús, reboques e semirreboques, camionetes e carros de passeio em nome do criminoso.
Mesmo preso em regime fechado, Janderson movimentava sua vida particular como se estivesse em plena liberdade, administrando as empresas abertas em nome de ‘laranjas’.
Além da frota que compõem a Transportadora Lopes, empresa aberta em nome de um sócio, mas da qual Janderson tinha procuração para administrar, ele também ‘investiu’ em outros negócios para lavar o dinheiro ilícito, como uma loja de materiais de construção, comprou gado e construiu residências. Foram identificadas quatro matrículas imobiliárias nas cidades de Cuiabá e Primavera do Leste, de residências e lotes, e uma propriedade rural em Poxoréu.
A equipe policial identificou ainda uma fazenda próxima ao município de Dom Aquino, onde o criminoso criava gado bovino de corte, que foi apreendido. “O gado em confinamento é um ativo de fácil liquidez, pois é comercializado em várias etapas na cadeia produtiva. Dessa maneira, o criador pode escolher o melhor momento para comprar e vender o animal”, apontou a equipe de investigação.
A investigação da Derf de Primavera do Leste reuniu relatórios financeiros e investigativos e identificou atividades ilegais envolvendo, principalmente, presos e o diretor da cadeia pública do município.
Para legitimar os valores recebidos, os investigados utilizaram pessoas jurídicas e físicas para movimentar o dinheiro do tráfico de drogas e comprar veículos, imóveis, gado, a fim de dar aparência de legalidade à atividade ilícita.
Frota do tráfico
Em setembro de 2022, policiais rodoviários federais e militares prenderam em Rio Verde (GO) duas pessoas por transportar e guardar quase duas toneladas de maconha. Parte da droga foi apreendida em uma oficina mecânica, cujo dono disse aos policiais que lhe pagaram R$ 10 mil para guardar os 893 tabletes da droga.
A Polícia Civil identificou posteriormente que o pagamento ao dono da oficina foi feito por uma das empresas da qual Janderson Lopes possui procuração, porém, aberta em nome de Valdir da Silva Araújo, também investigado e indiciado na Operação La Catedral. Ambos foram interrogados, mas afirmaram desconhecer o dono da oficina e se acusaram mutuamente em relação ao pagamento para a guarda da droga em Goiás.
Um dia após a deflagração da Operação La Catedral, em maio deste ano, um dos caminhões em nome da Transportadora Lopes, que estava com ordem de sequestro judicial pela operação, foi apreendido pela Polícia Rodoviária Federal na cidade de Três Lagoas (MS) transportando 1,4 tonelada de maconha. A droga estava oculta em meio a uma carga de caroço de algodão.
Movimentações financeiras
Janderson, a esposa e outros dois indiciados na operação movimentaram milhões de reais entre contas bancárias de pessoas física e jurídica.
No período investigado, entre fevereiro de 2022 e novembro de 2023, apenas nas contas de pessoa física, Janderson movimentou R$ 3,509 milhões e a esposa outros R$ 1.140 milhão. Já a Transportadora Lopes movimentou em créditos R$ 9,780 milhões e a empresa em nome de Valdir Araújo outros R$ 1,9 milhão.
O inquérito da Operação La Catedral destacou que a falta de lastro legal para os valores movimentados, uma delas pela condição do principal responsável, Janderson, estar preso e ter tido os bens confiscados em investigações anteriores da Polícia Civil. Outra é a capacidade técnica de uma das empresas, uma loja de materiais de construção pequena e sem competitividade com outras do mesmo ramo em Primavera do Leste.
Janderson e a esposa, Thais Lopes, adotaram o mesmo modo de atuação como o identificado na operação Red Money – que originou a condenação de ambos e confisco de bens – com a criação de pessoas jurídicas, especialmente transportadoras, para lavar o dinheiro do tráfico.
Os outros dois investigados sequer souberam dizer o porquê de ter escolhido a cidade de Primavera do Leste como sede das empresas e quem seriam seus fornecedores das empresas abertas, além de não possuírem capacidade financeira para tais investimentos.
O pioneirismo do Governo de Mato Grosso, que foi o primeiro Estado do país a lançar uma licitação com cláusula de retomada no seguro garantia, foi destaque no jornal Valor Econômico que circula nesta segunda-feira (04.11). Segundo a publicação, o caso de Mato Grosso virou referência para outros estados brasileiros.
A cláusula de retomada significa que, caso a empresa responsável pelo serviço não consiga entregá-la dentro do prazo, a seguradora do contrato poderá assumir os serviços para finalizá-los, ou então para indenizar o Governo do Estado em até 30% do valor do contrato.
O jornal destaca o trabalho realizado pelo Estado. A nova Lei de Licitações previa que projetos acima de R$ 200 milhões poderiam contar com a cláusula de retomada. Mato Grosso, no entanto, aprovou uma Lei Estadual reduzindo este valor para R$ 50 milhões.
“Foram nove meses de conversas com as seguradoras para desenhar esse modelo e deu certo. Do lado das construtoras, elas viram que não podem apenas pegar o edital, ler e chegar no dia do processo licitatório com a apresentação dos preços. Elas têm que mostrar conhecimento do local, conhecimento da obra e têm que conseguir o seguro”, afirmou o secretário Marcelo de Oliveira ao Valor Econômico.
Segundo o jornal, depois de Mato Grosso, outros estados como Paraná, Sergipe e Pernambuco buscaram seguradoras para entender os detalhes do modelo e seguir esse caminho.
“Mato Grosso foi o primeiro caso e, a partir dele, o setor segurador e as construtoras começaram a ter mais conhecimento. Isso tem ajudado em nossas conversas com outros Estados”, afirmou o diretor de relações institucionais da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), Esteves Colnago.
Colnago avalia que como as seguradoras vão exigir o mínimo de governança das empresas executoras de obras, isso vai ser positivo para o setor público.
A primeira obra com cláusula de retomada do Brasil é o asfaltamento de 49,89 km da MT-430 nos municípios de Confresa e Vila Rica, obra que recebe um investimento de R$ 95,1 milhões. Os trabalhos já estão em andamento.
A Secretaria de Estado de Infraestrutura e Logística (Sinfra-MT) já lançou outras obras com essa cláusula, como a pavimentação da MT-247 entre Barra do Bugres e Lambari D’Oeste, o asfalto da MT-109 entre Canabrava do Norte e São Félix do Araguaia e a implantação da MT-208/419 entre Carlinda e Novo Mundo.